quarta-feira, 31 de maio de 2017

Vida de Borboleta



26/05/2017
Série: Redações
O Livro dos Espíritos
Autor do livro: Allan Kardec
Cap VI: Da vida espírita

      Olá galerinha do bem e do mal, voando por aqui e por ali. Tiremos os pés do chão dessa vez e embarquemos nessa viagem astral...


      Recordam-se do alvorecer de uma realidade indescritivelmente fantástica? A transformação da crisálida, passando a ser bela borboleta? Em caso negativo, convido-os a ler o texto: “A Crisálida”. Abrir os olhos numa dimensão extrafísica pode ser uma experiência aterrorizante, confusa ou reconfortante. Deparar-se com entidades estranhas, disformes, sombrias. Alegrar-se, ao vislumbrar faces conhecidas, amigos e mentores espirituais. São duas sortes distintas, consequências de nosso proceder no mundo físico.
      Abrir os olhos, talvez, não seja o termo adequado, haja vista a inexistência de órgãos sensoriais específicos no corpo perispiritual. Todo o ser ouve, vê, sente, independente do ar ou luz. Nós próprios somos centelhas tão mais cintilantes quanto maior for nossa depuração. O fluído cósmico serve de veículo para transmissão do pensamento tal qual o ar o é dos sons. Sensações de fome, frio, calor e sede podem permanecer em espíritos inferiores, ainda apegados à matéria, ignorantes a respeito das questões espirituais e morais.
      De modo geral, nós sabíamos a que gênero de provas estaríamos submetidos durante a temporada terrena. Isso por nós mesmos termos escolhido aquele gênero, com vistas no progresso, na felicidade. Deus nos faculta essa escolha com a finalidade de sermos mais e mais responsáveis por nosso caminhar, no entanto, espíritos ainda muito jovens ou rebeldes são constrangidos a sofrer esta ou aquela prova de acordo às suas capacidades ou infrações cometidas.
     Levando em conta que a maior parte da população terrestre seria composta de espíritos inferiores, independente de nacionalidades, cores, religiões ou condições socioeconômicas, depreende-se que a sorte dos terráqueos, após a morte, não seja das melhores. Contudo, a questão é por demais complexa. Existem diversos graus de inferioridade assim como diversos são os setores da vida humana: família, amigos, trabalho, indivíduo, sociedade etc. Aqueles que souberam criar verdadeiros laços fraternos, além de corrigir seus erros ou parte deles, gozam de uma assistência especial, após o desencarne. Estes são encaminhados para cidades-hospital, exemplificadas no filme “Nosso Lar”, para sua recuperação. Afinal, apesar dos seus méritos, ainda estão distantes da perfeição. Já os espíritos que viveram afogados no egoísmo encontram uma recepção pouco amistosa de outros semelhantes a ele, experienciando terríveis sofrimentos psicomorais, até arrependerem-se sinceramente e clamarem por socorro.
     Adentremos... por detrás dessas cortinas brumosas onde os mortais não alcançam, avistamos um lugar infinito, infinito em sua extensão, em suas cores, beleza e mistérios. Uma diversidade que faz a exuberante Gaia terrestre parecer uma deusa acanhada. Mas nem tudo é luz, nem tudo reluz. Zonas sombrias, densas, pululam aqui e ali, separadas dos planos superiores por poderosas barreiras vibratórias, energéticas. Os espíritos fulgurantes vão onde querem, ao passo que os seres opacos rastejam em ambientes pesados condizentes com sua energia massuda, atraídos pela gravidade de maneira análoga aos encarnados, ao perambularem pela crosta.
     De forma simplista, poderíamos dividir o plano espiritual em quatro regiões, utilizando o critério da densidade: regiões infernais, regiões umbralinas, regiões intermediárias, regiões superiores. Importante pontuar a não existência de um inferno em si. O caráter infernal relaciona-se às mentes infernais reunidas naquele espaço, atraídas pelas zonas mais densas.
     Numa dimensão próxima do nosso plano tridimensional, entrevemos várias cidades espirituais destinadas ao socorro dos recém-desencarnados, lembrando que o qualificativo espiritual se refere a um tempo-espaço distinto do nosso cuja matéria e energia se encontram em estados inapreensíveis aos nossos instrumentos. É curioso imaginar um mundo espiritual com cidades, palácios, monumentos, montanhas, planícies, vales, lagos, vegetações e criaturas desconhecidas. Um mundo fervilhante, cheio de atividade, cheio de vida, muito mais populoso que a Terra física. Mesmo nas zonas umbralinas, encontramos cidades envoltas em pesadas neblinas, fortalezas, laboratórios, conflitos, intrigas, maquinações e tantas outras coisas inimagináveis.
      Nesse mundo, as trevas são mais tenebrosas e as luzes, mais brilhantes. O desligamento do corpo material nos permite ampliar as faculdades intelectuais; permite a demonstração mais sincera e profunda dos sentimentos. Os laços de amizade se fortalecem e a percepção das coisas torna-se mais precisa. Descanso eterno? Longe disso, pois que a ociosidade, irmã do tédio, constituiria um martírio sem fim. Além do mais, o espírito não experimenta fadigas como o corpo dos encarnados. Trabalho? Com certeza! O trabalho continua, sob outro ponto de vista, erigido sobre os pilares da fraternidade universal.

        Vida de borboleta é vida dinâmica. Podemos permanecer séculos nos planos espirituais, entre uma encarnação e outra. Permaneceremos a eternidade lá, após chegarmos à perfeição, uma vez que esta é nossa verdadeira pátria. Necessitamos de algo para fazer, concordam? Nada de entoar cânticos gospel pela eternidade. Os tipos de atividades são inúmeros, desafiadores, sempre fundados no espírito de serviço ao próximo. As formas de lazer são igualmente abundantes, desde a contemplação das infindáveis paisagens da natureza espiritual até o ingresso em festas regadas a amor e leveza. O mundo dos espíritos dança em incontáveis ritmos harmoniosos entre si, vibra! Ele nos convida a alçar voo por esses campos Elíseos de tantas flores, odores e sabores. Saiamos do casulo ainda encarnados e desfrutemos das maravilhas de Ser Espiritual. Morramos antes da morte para vivermos em paz eternamente!

Nenhum comentário:

Postar um comentário