Anima Animus
Autor:
MG Amaral
Série:
Como fazer?
Ânimo Teórico-metodológico
Você já deve ter passado, ao menos, alguns dias na
casa de algum amigo ou parente e deve ter notado como eles fazem as tarefas
domésticas, de maneira diferente da sua casa. Cada família ou indivíduo
organiza as tarefas de maneira distinta, graças aos diversos modos de ser e
estar no mundo. Cada um possui necessidades e prioridades diferentes, visões de
mundo variadas e, por isso, as demandas e o modo de alcançá-las são diversos.
Ainda assim, uns podem ser mais eficientes que outros, a depender de seus
objetivos. Métodos: a maneira de lavar os pratos, por exemplo, deixando
acumular para lavá-los no final do dia, ou lavando a cada prato sujo; da mesma
forma, podemos pensar no modo de varrer a casa, arrumar a cama, etc. A Ciência
também possui seus métodos? Cada disciplina, um método diferente? O próprio ato
de estudar estaria sujeito a metodologias? Hora de pesquisar.
Todas as ciências caracterizam-se pela
utilização de métodos científicos; em contrapartida, nem todos os ramos de
estudo que empregam estes métodos são ciências. Dessas afirmações podemos
concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada exclusiva da
ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos.
Assim, o método
é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e
economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –
traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do
cientista. [Lakatos, Eva Maria; Marconi, Marina de Andrade; Fundamentos de
metodologia científica – pg 65 - 7 ed. –
São Paulo: Atlas, 2010]
Trabalho científico é tomado aqui em sentido
abrangente, envolvendo múltiplas perspectivas. De modo geral, refere-se ao
próprio processo de produção do conhecimento científico, atividade
epistemológica de apreensão do real; ao mesmo tempo, refere-se igualmente ao
conjunto de processos de estudo, de pesquisa e de reflexão que caracterizam a
vida intelectual do estudante; refere-se ainda ao relatório técnico que
registra dissertativamente os resultados de pesquisas científicas, caso em que
significa a própria monografa científica. [Severino,
Antonio Joaquim, 1941; Metodologia do trabalho científico – pg 17 -24 ed. rev.
e atual. – São Paulo: Cortez, 2016]
A ciência utiliza-se de método que lhe é
próprio, o método científico, elemento fundamental do processo de conhecimento
realizado pela ciência para diferenciá-la não só do senso comum, mas também das
demais modalidades de expressão da subjetividade humana, como a filosofia, a
arte, a religião. Trata-se de um conjunto de procedimentos lógicos e de
técnicas operacionais que permitem o acesso às relações causais constantes
entre os fenômenos (...)[Severino, Antonio Joaquim, 1941; Metodologia do
trabalho científico – pg 108 -24 ed. rev. e atual. – São Paulo: Cortez, 2016]
Por quê? Para quê? Como? Por que estou
produzindo esses textos? Por que estou criando essas vídeoaulas? Por que a
insistência nesses tais mapas mentais? Por que tantas imagens? Por que desses
textos coloridos? Quais seriam minhas intenções e finalidades? E como posso
alcançar esses objetivos? Dinheiro? Também. Afinal, boas intenções não pagam
boletos. Aprendizagem! Facilitar as aprendizagens dos meus estudantes é uma das
principais metas. Possibilitar melhorias qualitativas, na vida dos aprendizes
que interagem com minhas aulas. Ampliar horizontes, intensificar a autonomia
dos sujeitos, alargar os raios de ação e intervenção na realidade, despertar ou
fortalecer o ânimo pela vida, aprofundar as capacidades crítico-reflexivas. Mas
por que eu investiria tempo e esforço nesses objetivos tão desafiadores? Visão
de mundo, perspectiva. Meu olhar sobre a vida admite a interconexão de todos os
seres vivos, destacadamente de nós seres humanos. Todos estaríamos emaranhados,
numa rede de profundas conexões visíveis e invisíveis. A partir daí, prejudicar
nossos semelhantes seria igual a prejudicar a nós mesmos; ajudá-los a
desenvolverem-se seria ajudar, igualmente, a nós mesmos. Acredito que todos, em
alguma medida, desejam viver melhor, desejam viver em um lugar melhor, ainda
que o significado desse melhor possa variar, consideravelmente, de um para o
outro. Sendo assim, meus esforços voltam-se, na medida de minhas limitações e
potencialidades, na direção da construção de um mundo capaz de abrigar e
manifestar nossos melhores sonhos!
O trabalho pode
ser fonte de desgostos, exploração, exaustão e desânimo, no entanto, também
pode ser fonte de alegrias, satisfação e realizações. Isso depende, largamente,
das intenções, dos objetivos, dos modos de organização, das interações
estabelecidas, da remuneração, da valoração individual e social. Tenho o
privilégio de trabalhar com algo valorizado por mim, de fazer o que gosto. Infelizmente,
muitos não vivem assim. Porém, caso meu trabalho possa ajudar alguém nesse
sentido, com certeza, terá sido de grande valia. Levar um pouco de cor à vida
das pessoas. Talvez, você tenha notado
algo peculiar nesses textos. As cores! Inspirado nos
ensinamentos do neurocientista Tony Buzan, criador dos esquemas de pensamento
denominados de Mapas Mentais, resolvi colorir os textos. Um ato simples, carregado
de simbologias e implicações. Por que o mundo adulto deve ser tão cinza, tão
monocromático? Por que seriedade e qualidade estão tão atreladas à
sisudez, à rigidez? Por que a rigorosidade deve acompanhar a severidade,
beirando a hostilidade? Por que a ausência do humor, do sentimento, da poesia,
na Ciência? Quem decretou a descoloração do mundo? Quem resfriou a Ciência tal
qual um cadáver pálido? Não vemos na Natureza da Terra e dos espaços infinitos uma exuberância infindável de formas e cores? Não é esta Natureza
exuberante, poética e misteriosa, o objeto vivo de nossos estudos? Por que
restringir as cores aos usos da infância? Por que imaginá-las como uma ameaça à
masculinidade de certos homens ou como a infantilização dos adultos, a perda da
seriedade? Buzan, de maneira muito simples, nos fala do prazer estético, dos
benefícios à memória, das conexões com nossa afetividade, proporcionadas pelo
mero acréscimo de cores aos nossos estudos. Com tantos recursos gráficos à disposição, ficamos presos a padrões inflexíveis:
Use CORES durante todo o processo. Por quê? Porque as cores são tão excitantes para o cérebro quanto as
imagens. O uso
da cor acrescenta vibração e vida ao seu Mapa Mental, fornece uma energia
extraordinária ao Pensamento Criativo, e é
divertido. [Buzan, Tony, Mapas Mentais e sua
Elaboração: um sistema definitivo de pensamento que transformará a sua vida, pg
46, São Paulo, Ed. Cultrix, 2005]
Os Mapas
Mentais são esquemas de pensamento, métodos de sistematização e síntese das
ideias. A partir de palavras-chaves, cores, linhas curvas, símbolos e imagens,
o Mapa permite-nos condensar as ideias, num formato esteticamente atraente,
análogo ao neurônio, evidenciando nossa personalidade e subjetividade, sem
perder de vista o caráter técnico e objetivo. Meus textos são sempre
acompanhados de Mapas Mentais para facilitar o entendimento e sintetização.
Contudo, mais do que analisar meus mapas, minha proposta fundamental é a produção
de mapas por parte dos estudantes, tendo, nos meus mapas, uma referência. A
produção dos mapas possui um caráter avaliativo e autoavaliativo, no sentido de
permitir ao professor avaliar o estágio de apropriação/construção do
conhecimento pelos seus estudantes, assim como dos modos de organização objetiva/subjetiva
desses conhecimentos. Permite também uma avaliação realizada pelo próprio
aprendiz a fim de guiar seus novos estudos, além de valioso registro de
informações integradas. Segundo Buzan, nosso cérebro trabalha a partir da
imaginação e associações. Então, podemos ajudá-lo a trabalhar melhor com esse
esquema:
Todos os Mapas Mentais têm algumas coisas em comum: Todos usam cores,
todos têm uma estrutura natural que parte do centro; todos utilizam linhas,
símbolos, palavras e imagens de acordo com um conjunto de regras simples,
básicas, naturais e familiares ao cérebro. Com um Mapa Mental, uma longa lista
de informações áridas pode se transformar num diagrama colorido, fácil de
lembrar e bem organizado que opera em harmonia com o funcionamento natural do
cérebro. [Buzan,
Tony, Mapas Mentais e sua Elaboração: um sistema definitivo de pensamento que
transformará a sua vida, pg 25, São Paulo, Ed. Cultrix, 2005]
Leia a palavra abaixo, impressa em
letras maiúsculas. Em seguida, feche os olhos e mantenha-os fechados, durante uns 30 segundos, pensando na palavra.
FRUTA.
Ao ler a palavra e fechar os olhos,
imprimiu-se em sua mente a palavra FRUTA, como a impressão feita por um
computador?
É claro que não! O que o seu cérebro
provavelmente gerou foi a imagem da sua fruta preferida, de uma bandeja com
frutas ou de uma quitanda de frutas;
relacionou os sabores às frutas respectivas e, ainda “sentiu” seus
aromas. Isso acontece porque nosso cérebro trabalha com imagens sensoriais, com
conexões adequadas e associações que delas se irradiam. O cérebro usa palavras
para disparar essas imagens e associações.
[Buzan, Tony, Mapas Mentais e sua Elaboração: um sistema
definitivo de pensamento que transformará a sua vida, pg 42, São Paulo, Ed.
Cultrix, 2005]
O seu cérebro irradia pensamentos em todas as direções.
Elas produzem figuras tridimensionais
com inúmeras associações que são especialmente pessoais para cada um de nós.
O que você constatou com o “exercício
da fruta” é que seu cérebro cria Mapas Mentais naturalmente! Ao fazer isso,
você conseguiu algo ainda maior do que imagina e abriu caminho para um
aperfeiçoamento notável do seu poder de pensar. Você descobriu como seu cérebro
realmente trabalha. [Buzan, Tony, Mapas Mentais e sua Elaboração: um sistema
definitivo de pensamento que transformará a sua vida, pg 43, São Paulo, Ed.
Cultrix, 2005]
Falar em avaliações, exames e provas dá
calafrios e dores de cabeça a muita gente. Mas por que isso ocorre? As
avaliações deveriam ser assustadoras assim? O problema estaria no caráter
propedêutico de nossa educação, ou seja, o caráter seletivo. Uma educação onde
cada nível de ensino se preocupa muito mais em selecionar os que estariam aptos
aos níveis superiores do que em fomentar, de fato, o aprendizado de todos.
Quais os objetivos da escola? Passar nos vestibulares, passar nos concursos,
ingressar no ensino superior, favorecer o acesso a empregos bem remunerados?
Não seria ensinar sobre a vida, sobre viver? Não seria favorecer o aprendizado
o máximo possível? Não seria despertar potencialidades latentes, aflorar a
criatividade, o pensamento crítico, a curiosidade investigativa? Nossos métodos
andam de mãos dadas com nossos objetivos, muitas vezes, sem que percebamos. As
notas deveriam ser o centro de nossas atenções ou nosso aprendizado? As notas
medem com segurança nossos aprendizados? Existem formas de avaliar para além
das provas tradicionais? Lembremo-nos dos mapas: as avaliações seriam como
mapas de nosso aprendizado. Os mapas servem para nos auxiliar sobre as decisões,
envolvendo nossos caminhos. Nesse caso, os caminhos seriam a própria
aprendizagem. De quantas maneiras podemos nos expressar? Fala, escrita, prosa,
verso, música, dança, teatro, desenho, jogos, áudios, vídeos, imagens, jornais,
revistas, palestras, assembleias etc. Todas essas modalidades de expressão
podem constituir formas válidas de compartilhar conhecimentos e propiciar
avaliações e autoavaliações. Reflita e escolha as melhores maneiras de integrar
seus conhecimentos e compartilhar com o mundo. Quanto mais formas, melhor e
mais precisa será a avaliação. O conhecimento não deve ficar preso nas paredes
do seu quarto, nem entre os muros das escolas. Identificar erros em nossos
projetos, após a avaliação, não deve ser motivo de tristeza ou estagnação. A
identificação dos erros deve servir para podermos refazer algo maior e melhor. Não
tenhamos medo de errar. Precisamos nos livrar desse absurdo internalizado desde
criança. Os erros são os degraus do aprendizado. Perguntar sempre que não
compreender, seguir adiante, após as quedas inevitáveis. Não foi assim que
aprendemos a andar?
Desse mundo do ensino primário – algo
informe e desordenado, compreendendo presentemente escolas estaduais, de
matrículas, escolas municipais, com instalações geralmente inadequadas e com
professores despreparados, e escolas particulares livres, todas ou de simples
alfabetização ou de caráter, como vimos propedêutico e seletivo – passamos ao
mundo do ensino médio.
A transição tem
algo de um salto. Não é apenas um novo nível, mas um novo reino, ou, então, a
entrada definitiva no reino da educação seletiva. Como a marcar a violenta
transformação, há que registrar o ritualismo que caracteriza a nova escola. A
licença de organização, de programas, de métodos e formalismo mais estrito e
por verdadeira inflexibilidade de organização. Distribui-se por cinco ramos
esse ensino: o secundário, de caráter nitidamente intelectualista; o
técnico-industrial, o agrícola, o comercial e o normal ou pedagógico.
Teoricamente, o secundário seria
propedêutico ao ensino superior, e os demais, de caráter profissional,
destinados ao preparo dos quadros de nível médio de técnicos para a indústria,
o comércio, a agricultura e o magistério primário. Na realidade, porém, todo
esse ensino médio se vem fazendo propedêutico ao ensino superior,
contentando-se com seu preparo para se iniciar no trabalho ativo apenas aquele
grupo de alunos que, não conseguindo adaptar-se à rigidez dos seus padrões,
acaba por abandonar o curso ou dele ser excluído pelas reprovações. [Texeira,
Anísio; A escola brasileira e a estabilidade social; Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos, vol. XXVIII, nº 67, 1957, pp. 9-10]
Quais conteúdos ensina um professor de
História? História, vocês diriam, aquelas coisas “do tempo do ronca’, “do
rococó”, “de onde Judas perdeu as botas”, “das poeiras dos museus”. Em parte,
vocês estariam corretos, apesar da chamada História do Tempo Presente e outras
questões teórico-metodológicas da História que não cabem nesse texto. O ponto-chave
seria a restrição dos conteúdos aos conteúdos disciplinares dessa matéria. Como
pesquisar, como sintetizar, como produzir um mapa mental, como ler, como
interpretar, como cooperar, como trabalhar em equipe? Esses “como(s)” podem ser
considerados conteúdos? O educador Antoni Zabala nos chama atenção para a
existência dos conteúdos, nomeados por ele de procedimentais e atitudinais,
muitas vezes, ignorados pelos professores. Também nos adverte sobre o chamado
currículo oculto que envolve, entre outras coisas, o modo como a escola está
organizada e os tipos de interação social hegemônicos dentro dela. Muitas vezes,
o currículo oculto contradiz o projeto político-pedagógico propagado pela
escola.
Vimos, até aqui, uma noção de educação,
fundada na ideia de processo, sequência, encadeamento. Podemos perceber esses
processos em nossa rotina? Seriam os setores da nossa vida bem delimitados,
compartimentados (família, amigos, trabalho etc) ou apenas os dividimos assim
para facilitar nossa compreensão? Essa compreensão poderia ampliar-se a partir
da reflexão de nossas práticas diárias? A práxis, reflexão sobre as próprias
práticas, com o objetivo de transformar/melhorar a própria prática, seria
cabível no contexto educacional? Nada mais pertinente a essa concepção educativa
processual que a utilização de sequências didáticas para elaboração das aulas,
atividades e organização dos conteúdos. No dizer da educadora Myriam
Nemirovsky:
Assumir que as atividades em classe podem
ser estruturadas em sequências implica organizar um processo didático por meio
do qual desencadeamos uma série de ações sucessivas e com diferentes graus de
complexidade, que têm um propósito explícito e claro e que ocorrem ao longo de
várias semanas ou meses. Essa forma de organizar as aulas se difere do modo
educativo transmissivo, que vigorou durante muito tempo e lamentavelmente
continua vivo em muitos lugares. Nele, o professor apenas repassava
conhecimentos para as turmas e não havia o princípio de processo para o ensino
e para a aprendizagem. As atividades estavam organizadas com base em uma
concepção aditiva, em que se propunha uma atividade após a outra para treinar
os alunos. A função das crianças era apenas adquirir o conhecimento passado
pelo mestre. [Entrevista com Myriam Nemirovsky; Revista Nova Escola; 2011]
Agora daremos a palavra ao professor
Antoni Zabala:
[Sequência didática] Na unidade 4 vemos
que em praticamente todas as atividades que formam a sequência aparecem
conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Neste caso, os alunos
controlam o ritmo da sequência, atuando constantemente e utilizando uma série
de técnicas e habilidades: diálogo, debate, trabalho em pequenos grupo,
pesquisa bibliográfica, trabalho de campo, elaboração de questionários,
entrevistas, etc. Ao mesmo tempo, encontram-se diante de uma série de conflitos
pessoais e grupais de sociabilidade que é preciso resolver, o que implica que
devam ir aprendendo a “ser” de uma determinada maneira: tolerantes,
cooperativos, respeitosos, rigorosos, etc. Nesta sequência vemos que, como
outras, aparecem conteúdos das três categorias. Mas neste caso existe um
trabalho muito explícito no dos conteúdos
procedimentais e atitudinais (grifos nossos). Do mesmo modo que na unidade
anterior, o fato de que apareçam estes conteúdos não quer dizer que exista uma
consciência educativa. Enquanto isto não se traduza a maneira de trabalhar
estes conteúdos por parte dos professores e não sejam objeto de avaliação, não
poderemos considera-los conteúdos explícitos de aprendizagem. No entanto, se
nos detemos na fase de avaliação, pode se ver que não se faz apenas uma
avaliação da prova realizada, mas que a classificação é o resultado das
observações feitas durante toda a unidade. Neste caso, pode se afirmar que se
pretende que os alunos “saibam” os termos tratados, “saibam fazer”
questionários, investigações, entrevistas, etc., e que cada vez “sejam” mais
tolerantes, cooperativos, organizados, etc. [Zabala, Antoni; A Prática
Educativa: Como ensinar; ed. Artmed, 1998]
Devem ter percebido, igualmente, a
utilização frequente da primeira pessoa em meus textos. A primeira pessoa não é
recomendada em textos classificados como acadêmicos, todavia, percebi o
potencial sócioafetivo dessa forma verbal e resolvi, singelamente, desafiar o establishment. Após ler vários textos de
pedagogia e de história da educação, imaginei a possibilidade de aplicar esses
conhecimentos didático-pedagógicos à estrutura do próprio texto. Conhecimentos
muitas vezes pensados para a dinâmica das salas de aula poderiam ser adaptados
à produção textual? Aproximação do estudante a partir de questões cotidianas;
consideração pelos conhecimentos prévios do estudante; articulação entre cotidiano
e conhecimento acadêmico; proposição de situações-problema significativas para
o aprendiz; estímulo mental a partir de desafios, provocações e perguntas;
estímulo à pesquisa; crença nas capacidades intelectuais do estudante, evitando
respostas prontas e acabadas. O texto se pretende mais leve, mais colorido,
mais desafiador ao mesmo tempo. Muitos estudiosos enfatizam a importância da
afetividade no aprendizado. No âmbito textual, o que seria uma abordagem com
potencial mais afetivo do que a utilização da primeira pessoa? Machado de Assis
foi uma das minhas inspirações com seus diálogos diretos e desafiadores do
narrador para com seus leitores. Meu “Eu” não irá sumir diante de
impessoalidades frias e meus argumentos não enfraquecerão por explicitar minha personalidade
e subjetividade, pelo contrário, serão elementos úteis a analises mais
profundas de minhas obras, um espelho da minha tentativa de honestidade
intelectual, de meu lugar de fala, de minha visão de mundo. Convido a todos a
mergulhar nessa visão de mundo para, a partir dela, construírem suas próprias
visões. Permitam-me ser um dos tijolos através dos quais edificarão seus
sonhos.
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