quarta-feira, 31 de maio de 2017

Vida de Borboleta



26/05/2017
Série: Redações
O Livro dos Espíritos
Autor do livro: Allan Kardec
Cap VI: Da vida espírita

      Olá galerinha do bem e do mal, voando por aqui e por ali. Tiremos os pés do chão dessa vez e embarquemos nessa viagem astral...


      Recordam-se do alvorecer de uma realidade indescritivelmente fantástica? A transformação da crisálida, passando a ser bela borboleta? Em caso negativo, convido-os a ler o texto: “A Crisálida”. Abrir os olhos numa dimensão extrafísica pode ser uma experiência aterrorizante, confusa ou reconfortante. Deparar-se com entidades estranhas, disformes, sombrias. Alegrar-se, ao vislumbrar faces conhecidas, amigos e mentores espirituais. São duas sortes distintas, consequências de nosso proceder no mundo físico.
      Abrir os olhos, talvez, não seja o termo adequado, haja vista a inexistência de órgãos sensoriais específicos no corpo perispiritual. Todo o ser ouve, vê, sente, independente do ar ou luz. Nós próprios somos centelhas tão mais cintilantes quanto maior for nossa depuração. O fluído cósmico serve de veículo para transmissão do pensamento tal qual o ar o é dos sons. Sensações de fome, frio, calor e sede podem permanecer em espíritos inferiores, ainda apegados à matéria, ignorantes a respeito das questões espirituais e morais.
      De modo geral, nós sabíamos a que gênero de provas estaríamos submetidos durante a temporada terrena. Isso por nós mesmos termos escolhido aquele gênero, com vistas no progresso, na felicidade. Deus nos faculta essa escolha com a finalidade de sermos mais e mais responsáveis por nosso caminhar, no entanto, espíritos ainda muito jovens ou rebeldes são constrangidos a sofrer esta ou aquela prova de acordo às suas capacidades ou infrações cometidas.
     Levando em conta que a maior parte da população terrestre seria composta de espíritos inferiores, independente de nacionalidades, cores, religiões ou condições socioeconômicas, depreende-se que a sorte dos terráqueos, após a morte, não seja das melhores. Contudo, a questão é por demais complexa. Existem diversos graus de inferioridade assim como diversos são os setores da vida humana: família, amigos, trabalho, indivíduo, sociedade etc. Aqueles que souberam criar verdadeiros laços fraternos, além de corrigir seus erros ou parte deles, gozam de uma assistência especial, após o desencarne. Estes são encaminhados para cidades-hospital, exemplificadas no filme “Nosso Lar”, para sua recuperação. Afinal, apesar dos seus méritos, ainda estão distantes da perfeição. Já os espíritos que viveram afogados no egoísmo encontram uma recepção pouco amistosa de outros semelhantes a ele, experienciando terríveis sofrimentos psicomorais, até arrependerem-se sinceramente e clamarem por socorro.
     Adentremos... por detrás dessas cortinas brumosas onde os mortais não alcançam, avistamos um lugar infinito, infinito em sua extensão, em suas cores, beleza e mistérios. Uma diversidade que faz a exuberante Gaia terrestre parecer uma deusa acanhada. Mas nem tudo é luz, nem tudo reluz. Zonas sombrias, densas, pululam aqui e ali, separadas dos planos superiores por poderosas barreiras vibratórias, energéticas. Os espíritos fulgurantes vão onde querem, ao passo que os seres opacos rastejam em ambientes pesados condizentes com sua energia massuda, atraídos pela gravidade de maneira análoga aos encarnados, ao perambularem pela crosta.
     De forma simplista, poderíamos dividir o plano espiritual em quatro regiões, utilizando o critério da densidade: regiões infernais, regiões umbralinas, regiões intermediárias, regiões superiores. Importante pontuar a não existência de um inferno em si. O caráter infernal relaciona-se às mentes infernais reunidas naquele espaço, atraídas pelas zonas mais densas.
     Numa dimensão próxima do nosso plano tridimensional, entrevemos várias cidades espirituais destinadas ao socorro dos recém-desencarnados, lembrando que o qualificativo espiritual se refere a um tempo-espaço distinto do nosso cuja matéria e energia se encontram em estados inapreensíveis aos nossos instrumentos. É curioso imaginar um mundo espiritual com cidades, palácios, monumentos, montanhas, planícies, vales, lagos, vegetações e criaturas desconhecidas. Um mundo fervilhante, cheio de atividade, cheio de vida, muito mais populoso que a Terra física. Mesmo nas zonas umbralinas, encontramos cidades envoltas em pesadas neblinas, fortalezas, laboratórios, conflitos, intrigas, maquinações e tantas outras coisas inimagináveis.
      Nesse mundo, as trevas são mais tenebrosas e as luzes, mais brilhantes. O desligamento do corpo material nos permite ampliar as faculdades intelectuais; permite a demonstração mais sincera e profunda dos sentimentos. Os laços de amizade se fortalecem e a percepção das coisas torna-se mais precisa. Descanso eterno? Longe disso, pois que a ociosidade, irmã do tédio, constituiria um martírio sem fim. Além do mais, o espírito não experimenta fadigas como o corpo dos encarnados. Trabalho? Com certeza! O trabalho continua, sob outro ponto de vista, erigido sobre os pilares da fraternidade universal.

        Vida de borboleta é vida dinâmica. Podemos permanecer séculos nos planos espirituais, entre uma encarnação e outra. Permaneceremos a eternidade lá, após chegarmos à perfeição, uma vez que esta é nossa verdadeira pátria. Necessitamos de algo para fazer, concordam? Nada de entoar cânticos gospel pela eternidade. Os tipos de atividades são inúmeros, desafiadores, sempre fundados no espírito de serviço ao próximo. As formas de lazer são igualmente abundantes, desde a contemplação das infindáveis paisagens da natureza espiritual até o ingresso em festas regadas a amor e leveza. O mundo dos espíritos dança em incontáveis ritmos harmoniosos entre si, vibra! Ele nos convida a alçar voo por esses campos Elíseos de tantas flores, odores e sabores. Saiamos do casulo ainda encarnados e desfrutemos das maravilhas de Ser Espiritual. Morramos antes da morte para vivermos em paz eternamente!

sábado, 27 de maio de 2017

Muitas Vidas em um Vida só


24∕05∕2017
Série: Redações
O Livro dos Espíritos
Autor do livro: Allan Kardec
Cap IV: Pluralidade de Existências

Olá galerinha do bem, do mal, do bem bom, mau mau e tudo e tal...

    Quantos “eus” habitam em nós? Quantas vozes disputam nossa atenção, nossa mente? Quantos quereres, quantos quefazeres? Somos seres contraditórios, feitos de escolhas quais dardos atirados no escuro de nossas especulações, de nossa perspectiva recortada. Seriam reflexos de múltiplos corpos, múltiplas famílias, múltiplos lugares, múltiplas posições sociais, múltiplas encarnações?
     O espiritismo versa muito sobre história, história de longuíssima duração, de inúmeros espaços. Um desafio hercúleo para qualquer pesquisador que ouse abraçar esse paradigma. O livro dos espíritos nos remete ao Evangelho: “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos um lugar” [João 14, v. 2]. E o que seria a casa do Pai senão o próprio Universo, hoje imaginado por alguns como multiverso.
     Nossa humanidade habita um pequeno planeta rochoso chamado Terra; terceiro de um sistema solar, dentre bilhões de sistemas solares; periferia da Via Láctea, dentre bilhões de galáxias. Assim, Kardec indagou se teria Deus criado essa infinidade de planetas e estrelas, apenas para recrearem nossas vistas. Qual seria a resposta, considerando um Deus de Suprema Inteligência, Eterno e Todo Poderoso?
     Segundo os espíritos, somos seres migrantes por excelência, nossa pátria, o Universo. Existiria vida por toda parte, uma solidariedade interplanetária. O passaporte para os diferentes mundos seria facultado, de acordo ao nosso grau de depuração, assim como do nível de perfeição do mundo almejado. Espíritos inferiores estariam interditados de habitar planetas superiores, por questões de harmonia universal. Contudo, essa interdição jamais seria eterna, dependendo sempre do desenvolvimento moral e intelectual, a fim de o “visto” ser concedido.
     Evidente que, para tudo isso ser possível, necessitaria incorporar o princípio reencarnacionista. De que outro modo essa depuração poderia ocorrer? Como solucionar problemas psicológicos graves e complexos, em apenas uma encarnação? Como ser capaz de amar profundamente a todos, incluindo atuais desafetos, em apenas 50 ou 100 anos? Amar como Jesus amou, ter a serenidade de um Mestre Zen, a inteligência de um Einstein, um Machado de Assis.
     Partindo do ponto que encarnamos inúmeras vezes em diversos mundos, depreende-se daí que, em essência, somos todos extraterrestres. Nenhum planeta em si é pátria de nenhum espírito. Por isso, um dos motivos das visitações dos UFOS é simplesmente nossa conexão intrínseca com eles. Espiritualmente, todos nós irmanados.
     Como já foi sinalizado em textos anteriores, os mundos passam por estágios evolutivos. Os espírito forneceram a seguinte classificação: mundos primitivos, mundos de provas e expiações, mundos de regeneração e mundos felizes. Nos primitivos, ocorrem os primeiros ensaios da vida, os instintos predominam, a animalidade impera; os de provas e expiações correspondem ao estágio da Terra, com hegemonia egoica; nos de regeneração, reinam espíritos bondosos, porém ainda imperfeitos; os felizes seriam os lares dos seres angélicos, o conto de fadas real, o paraíso por primazia. Quanto a nós, transitamos e transitaremos por todos esses estágios.
      Experiência, elemento necessário à evolução espiritual. Devido a isso, vivenciamos planetas distintos, posições sociais distintas, corpos distintos, gêneros distintos. “O espírito não possui sexo” afirmaram os desencarnados.
      O sexo é um caractere psicobiossocial, próprio do mundo material, enquanto plano dual, no entanto, essa dicotomia sexual permanece, em alguma medida no mundo espiritual, entre os espíritos imperfeitos. Em termos biológicos, físicos, o sexo atende aos imperativos da reprodução e conservação das espécies, por conta da perecibilidade dos corpos físicos. Já em termos espirituais, o sexo atende aos imperativos da experimentação, da ampliação dos conhecimentos, dos horizontes. Antes de tudo, o sexo corresponde a frequências energéticas mentais∕emocionais. Vivemos a dualidade sexual com o objetivo de superá-la, equilibrá-la. Feminino e Masculino, Yin e Yang, constituem dois polos vibratórios, igualmente importantes. A importância é dada na medida do equilíbrio∕desequilíbrio desses polos, pois tudo em Natureza tende ao equilíbrio, fato fundamental, em nossa caminhada evolutiva. Falando de outro modo, encarnamos corpos masculinos e femininos, guardando impressões psicológicas de ambos até alcançarmos a perfeita estabilidade da balança. Enquanto essa estabilidade não for alcançada, um dos polos dominará nossa personalidade. Quanto às cores e “raças”, bem, se espíritos não têm sexo, muito menos terão raças ou cores, aliás, sendo o períspirito um corpo extremamente “plástico”, pode o espírito (superior principalmente) apresentar-se com a cor e forma que desejar.

     Muitos opositores da reencarnação a consideraram uma doutrina profana por, supostamente, destruir os laços de família. Ora, ocorre justamente o oposto. A reencarnação amplia ao infinito os laços de família, de amizade. Condizente com as ideias de Jesus nas quais todos figuravam como irmãos, para além de laços sanguíneos. Porque os verdadeiros laços, fundados no amor e não no sangue, são espirituais. A reencarnação nos exorta a nos tornarmos uma grande família universal, confundindo hierarquias e preconceitos mundanos.

domingo, 14 de maio de 2017

Laços Umbilicais


Série: Dia das Mães
Autor: Mg Amaral

Olá galerinha que nasceu de um útero quentinho. Conseguem sentir o calor ainda? Um beijo, um sorriso, um abraço, uma lágrima, um colo...

     Deus é Amor? Mãe é Amar! Por ser o amor a expressão do cuidado, do carinho, do afeto. Esse afeto nos afeta tantas vezes e tão profundamente, tão uterinamente. Gestado por nove meses, multiplicado por duas vidas inteirinhas nas cavidades uterinas do coração, porquanto é nesse órgão central que foi plantada a semente divina. Embrião luminoso do mais poderoso dos cordões umbilicais. Laço indestrutível, ligando a Mãe ao-feto: Afeto. Afeto com letra maiúscula se traduz: Amor. Uma conexão permitindo o fluir da Suprema Luz. Um fulgor expandindo-se por cada pedacinho do corpo, dos corpos, ampliando mentes e corações às fronteiras do infinito, do eterno.

    Mãe é um estado de espírito. Estado permanente de uma flor imperecível, de beleza e perfume indescritíveis. Mãe é a encarnação do objetivo humano, um vislumbre de nossa própria divindade. Mãe é a conquista de quem aprendeu a doação, integral, irrestrita. Mãe é a mais bela das metamorfoses cuja principal barriga, localiza-se no centro do peito e cujo crescimento dar-se indefinidamente. Amor de Mãe, o mais próximo do Amor de Cristo. Não um objetivo inalcançável, mas um exemplo de sua possibilidade, de seus inigualáveis frutos. Reconhecerão as árvores pelos seus frutos dizia Jesus, então Deus, sem dúvida, muito antes de ser Pai, é Mãe.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

A Crisálida


Série: Redações
Autor: Mg Amaral
O Livro dos Espíritos
Parte Segunda: Capítulo III: Da volta do espírito, extinta a vida corpórea à vida espiritual

Olá, galerinha que se arrasta ou voa por aí...


      Dizem que ninguém nunca retornou do lado de lá, para contar a história. Ora, foi precisamente o que fizeram os espíritos, ao ditarem seu livro. Vieram, vêm e continuarão vindo por isto estar na ordem natural das coisas. Contaram a inspiradora história  de incontáveis lagartas metamorfoseando-se em belas borboletas. Corpos grosseiros, arrastando-se pela Terra, a fim de ganharem os céus espirituais. As provas pululam aqui e ali, mas somente, se tivermos olhos pra ver; se não houver orgulho a nos embotar. Vaidade, vaidade, tudo é vaidade, já advertia o Eclesiastes. Vaidade de estar certo, vaidade em não admitir enganos. Porém, diante da morte, qualquer vaidade é vã. Após a morte, nossas tolices ficam escancaradas, enquanto aqueles cultivadores do espírito durante a vida na Terra podem abrir sincero sorriso, ao vislumbrarem as belezas do mundo eterno. Morte é sinônimo de fim. Não morremos. Morre o corpo. Desencarnamos.

        A crisálida foi aberta. Os laços que nos prendiam à matéria, pouco a pouco se desatam, tais quais botões de uma roupa velha. Um sono profundo, um despertar. Tateamos atordoados nesse admirável mundo sem fim. Duas sortes se distinguem. A sorte dos egoístas, materialistas, grosseiros e desequilibrados revela-se tão mais perturbadora quanto mais desequilibrada tiver sido sua existência terrena. Uma duradoura confusão mental se instala, podendo permanecer por décadas a fio. Cada um segundo suas obras ou segundo a falta delas. Os mais apegados ao corpo podem até mesmo assistir ao horrendo espetáculo da própria decomposição, além de sentirem os efeitos desta, devido à forte ligação estabelecida. Esses sofrimentos são sempre de ordem psicológica e decorrem das reminiscências terrenas impressas no perispírito, contudo em nada devem aos sofrimentos físicos. Podem incluir também, sensação de fome, sede e frio. Já a sorte dos seguidores do amor desenrola-se tranquilamente. Amigos e mentores espirituais correm em seu auxílio, o estado de confusão mental dura apenas algumas horas, semelhante a um paciente recuperando-se de uma anestesia geral. Em seguida, um mundo fantasticamente indescritível descortina-se. Aurora!

quinta-feira, 11 de maio de 2017

O Precursor espiritual do evolucionismo


Série: Redações
O Livro dos Espíritos
Autor do livro: Allan Kardec
Parte Segunda: Capítulo II: Da Encarnação dos Espíritos

Olá galerinha do mal que ficou do bem, hoje o assunto é evolução. Evoluímos?

      24 de novembro de 1859, Charles Darwin, o naturalista britânico, publica “On Origin of Species” (A Origem das Espécies), causando uma verdadeira revolução paradigmática que ecoaria até os dias de hoje. Imaginemos a afronta representada por esta obra à já ferida Igreja Católica e por que não dizer, também, às Igrejas Protestantes. Em outros tempos, certas chamas poderiam tê-lo atingido, no entanto, não pouparam, em 1861, a queima de 300 livros espíritas, numa cena dantesca, protagonizada pelo bispo de Barcelona. Essa foi, literalmente, a primeira prova de fogo do espiritismo, quatro anos posteriores à publicação do “Livro dos Espíritos”, em 18 de abril de 1857! Sim, este livro espiritista antecedeu em dois anos “A Origem das Espécies”, logo suas ideias não poderiam ser atribuídas ao pai do evolucionismo. Segundo os espíritos, as ideias pairam na psicosfera (atmosfera psíquica emanada pelas mentes), irradiam-se e manifestam-se, nos mais diferentes lugares, de acordo com as capacidades de cada encarnado. A revolução industrial assim como a invenção do avião parecem corroborar essa tese.
      É no mínimo intrigante a concepção de um universo em constante evolução, universo multidimensional, planetas passando por estágios evolutivos, sem esquecer todas as criaturas vivas encadeadas numa sucessão de patamares inumeráveis, perpassando dimensões materiais e espirituais, sendo os espíritos humanos angélicos, o estágio supremo, apenas abaixo do Ser Criador. Todos os seres interconectados, em perfeita harmonia, sob caos aparente. Uma cadeia evolutiva ininterrupta, uma complexa rede de relações, vinculando a mais simples molécula aos complexos seres espirituais, multidimensionais. Sim, nossos corpos humanos vibram em múltiplas dimensões, das quais temos consciência, somente, da mais material. Universo mais dinâmico, mais mutante difícil de conceber. São ideias assustadoras até mesmo para um revolucionário como Darwin. Sem embargo, foram veiculadas antes do impacto de A Origem das Espécies e tiveram seu impacto próprio, mesmo sendo associadas pelos seus detratores a um obscurantismo supersticioso.
       A reencarnação figura no espiritismo como uma necessidade, uma misericórdia divina, uma prova da Justiça, uma solução racional para um sem número de questões filosófico-morais e mesmo biofísico-espirituais. Uma resposta às grandes questões existenciais. Mérito e liberdade são suas palavras-chaves. Não há progresso sem trabalho, dizem eles. Não há mérito sem esforço, não há conquista efetiva. Deus nos teria criado espíritos simples e ignorantes, a fim de tornar a felicidade eterna uma conquista nossa, não uma simples dádiva de eleitos. Deus nos elege na medida de nossos esforços. Do mesmo modo, o Ser Supremo não quis criar robôs automatizados, já “perfeitos”, seguidores incontestes de Suas ordens. Ele não é tirano, por isso nos concedeu o livre-arbítrio, a possibilidade de desobedecê-Lo. Contudo, criou Leis Eternas e inexoráveis, estas sim, perfeitas desde sempre, reguladoras do Universo. A Vontade divina para conosco resume-se numa palavra: FELICIDADE. Para tanto, as leis celestes nos impedem de permanecermos indefinidamente estacionários, rebeldes e nos impelem ao progresso cedo ou tarde. Por isso, o sofrimento representa a principal advertência divina sobre nossas imperfeições, nossos desequilíbrios, nossa necessidade de ajuda, de melhorar.
      Uma vida já eterna. Muitas vidas numa vida só. Eis o resumo das sucessões de encarnações. O elemento espiritual preexistente é imperecível, daí decorre a imortalidade do espírito, desde sua criação. A felicidade eterna, uma conquista inevitável, objetivo supremo das encarnações. Cabe ao espírito ser perfeito em tudo, para gozar plenamente a felicidade, acumular saber em todas as áreas do conhecimento, incluindo áreas desconhecidas da humanidade terrestre. Todavia, somos tão livres quanto falíveis e essa falibilidade pode manifestar-se desde pequenos incidentes até grandes atrocidades. Ainda assim seria realmente justa uma pena eterna? Eterna! Temos noção do que seja eternidade, do que seja um suplício eterno? Soa coerente com a ideia de um Deus de Amor? Soa coerente com o exemplo dado pelo maior representante de Deus? Aquele que perdoou seus torturadores?! Ver alguém sendo torturado já é bastante desagradável, pra dizer o mínimo. Imaginemos um Deus Onipresente, assistindo eternamente essa cena com bilhões de filhos seus... Nem o marquês de Sade seria tão sádico. Isso sem contar a incoerência da Onisciência, porque teria criado seres destinados ao suplício. Essas reflexões encontram-se todas no livro dos espíritos e em outras obras do chamado pentateuco espírita.
      Em qual escala estariam os humanos terrestres na classificação dos espíritos? Numa escala bem baixa, eles afirmam. A Terra estaria na classe dos planetas inferiores, lembrando que os critérios são predominantemente espirituais e não devem ser confundidos com as ideias de superioridade e inferioridade do senso comum. Basicamente eles avaliam a amorosidade e a intelectualidade de uma dada sociedade ou indivíduo, dispondo para isso de meios muito mais eficazes que nós, encarnados. Não seria difícil perceber a discrepância entre a evolução moral (moral evangélica, “crística” nesse caso) e a evolução intelectual na Terra, predominando a segunda em detrimento da primeira. Avançando no sentido das concepções católicas, o termo “anjo”, no espiritismo, refere-se aos espíritos puros, evoluídos, enquanto os demônios seriam espíritos impuros ou imperfeitos, haja vista não existir, na perspectiva espiritista, espaço para criações sectárias na Natureza, criações não vinculadas ao Todo, criaturas especiais já perfeitas ou, para sempre, más. Dito de outro modo, todo anjo já foi demônio (imperfeito) e todos são espíritos como nós. Os humanos terrestres que não existem de toda eternidade, ao entrarem em contato com espíritos angélicos acreditaram que estes eram assim desde sempre, da mesma maneira julgaram os espíritos impuros cujas maldades podem remontar milênios. Deus cria e criou sempre, por isso, por mais que recuemos no tempo, encontraremos uma infinidade de criaturas, planetas e espíritos perfeitos ou imperfeitos. Isso desafia as limitações da mente humana, mas eles declaram que assim é.      

      A ciência do século XIX não havia dito a última palavra sobre os segredos e horizontes da Natureza, nem poderia, da mesma forma que nossa ciência cibernética reconhece uma infinidade de perguntas não respondidas ou mal respondidas. Os espíritos nos admoestaram nesse sentido e suas observações continuam valendo. Não deveríamos preencher lacunas de ignorância com devaneios e leviandades, antes, devemos nos focar em estudos criteriosos. Kardec teria assinado essa última frase para aqueles que veem no espiritismo mero devaneio de pessoas ignorantes, crédulas, incapazes de encarar o vazio da matéria. O vazio da matéria não poderia ser mais irônico. Cada vez mais a matéria se apresenta como grandes espaços “vazios” ou campos energéticos difíceis de compreender. O que há além da matéria? Existe algo além, na própria matéria? Antimatéria, matéria escura, energia escura e tantos outros elementos estranhos não param de assombrar os cientistas que resistem bravamente, no seu materialismo inveterado. 

terça-feira, 9 de maio de 2017

Os filhos de Deus


Série: Redações
O Livro dos Espíritos
Autor do livro: Allan Kardec
Parte Segunda: Capítulo I: Dos Espíritos

Olá galerinha do bem, do além, do umbral e do astral... alto astral, por favor!


     Quem, neste mundo, não conhece uma boa história ou estória de assombração, de fantasmas?  Quantos “causos” ou mesmo casos pessoais, envolvendo vultos, visões, vozes, batidas, encontros realistas em sonhos, ao vivo e muito mais? Inúmeros, não é? Até o mais cético, na pior das hipóteses, conhece alguém experimentado nesses assuntos. Neste quesito, os espíritos são tão democráticos quanto versáteis. Essas histórias atravessam todos os continentes, todas as culturas, todas as línguas, todos os tempos, ainda que os nomes variem bastante aqui e ali. Bateu um medinho? Então coragem! O desconhecido sempre foi fonte inesgotável de medo, todavia jamais foi páreo para mentes curiosas e/ou cheias de fé! Se algumas testemunhas bastam para condenar um réu, então deveríamos, ao menos, ponderar sobre os incalculáveis testemunhos de todos os tempos e parar de taxar as pessoas que contradizem nossos paradigmas cristalizados como loucas, supersticiosas ou ignorantes!
        Mais que irmãos em Cristo, somos, primeiro, irmãos em Deus. Irmãos em Cristo contam-se poucos na Terra, poucos irmanados na prática do Amor Universal. Entretanto, a fraternidade oriunda do Criador é absoluta, abarca todas as criaturas do universo, especialmente, os seres inteligentes. E quem são eles? Espíritos. Espíritos? Sim, espíritos como nós, a individualização do princípio inteligente. Segundo eles, o momento de sua criação é um mistério, até mesmo para os perfeitos que recuperaram completamente a memória de suas incontáveis existências. Sobre sua filiação, porém, não pairam dúvidas: somos filhos de Deus. Deus Pai, Deus Mãe! Mãe, sim! Vençamos as dicotomias sexuais humanas as quais, de modo algum, podem ser atribuídas aos espíritos, muito menos, ao Ser Supremo. O Ser que sempre existiu e existirá, que sempre criou e criará. Não poderíamos imaginar a(o) Grande Arquiteta(o) ociosa(o), nem por um segundo, assim nos ensinaram os espíritos.
          O espírito é uma entidade individual, corpórea, tangível. Ele pode ser entendido como a essência inteligente, o núcleo por trás de todos os envoltórios ou, simplesmente, a entidade dotada de um corpo espiritual, denominado perispírito (uma analogia ao perisperma das frutas). A casca simbolizaria o corpo físico, o perisperma; o corpo espiritual e a semente, o espírito em si. A tangibilidade e outras materializações advêm do grau e do tipo de mediunidade, para se efetivarem. Mas, quanto às relações entre desencarnados, elas se dão naturalmente. Em se tratando da natureza desse corpo espiritual, ela se origina no tão falado fluído cósmico universal, sendo mais ou menos etéreo, a depender do grau de elevação do planeta e do próprio indivíduo. Sim, os planetas também passam por estágios evolutivos, enquanto eterizam seus elementos e purgam as energias deletérias, orientados pelos seres superiores, ministros de Deus. Mas, por hora, nos deteremos nos espíritos.
            Classificar e inventariar foram considerados primeiros atos da intelectualidade humana encarnada, na inventiva civilização suméria. Lembrando que os sistemas existem a fim de facilitarem nosso entendimento e não para nos escravizarem, para nos engessarem, passarei, então, a enumerar a classificação preferida pelos espíritos autores e organizadores do livro: Espíritos Puros, Bons e Impuros. Eles admitem, a grosso modo, essas três grandes categorias principais, reforçando a possibilidade de inúmeras formas classificatórias, de acordo com os critérios utilizados. Os impuros seriam aqueles em que o desejo do mal predomina, o ego domina, as paixões controlam; os bons, em que já predomina o desejo de fazer o bem, o amor ao próximo, no entanto, neles, ainda existem características para serem aprimoradas; os puros, seriam os perfeitos, os que dispensam reencarnação, os mais próximos de Deus(a), porém inferiores a Ela/Ele, pelo Ser Supremo Ser apenas UM(A).

As máquinas biológicas


Série: Redações
O Livro dos Espíritos
Autor do livro: Allan Kardec
Capítulo IV: Do Princípio Vital

Olá galerinha viva e morta-viva, viva a vida!

     O que é a vida? O que determina estarmos vivos ou não? Qual a fronteira entre os seres orgânicos e inorgânicos? Carbono, o átomo da vida, combinado ao hidrogênio, elemento mais abundante no universo. Estes elementos são os principais componentes das criaturas vivas. Contudo, não parece existir barreira intransponível entre estruturas orgânicas e inorgânicas. Tudo seria uma questão de combinações, organização subatômica, atômica, molecular.
       Os espíritos, todavia, acrescentaram um elemento nessa receita: o princípio vital. Sem ele, moléculas, tecidos, órgãos e corpos não passariam de um amontoado de matéria morta. E o que seria esse princípio? Algo semelhante à eletricidade, ao magnetismo, algo que eles denominaram de magnetismo animalizado, o qual seríamos capazes de emanar, inclusive para prolongar a vida ou curar doenças. Esse fluido vital, como qualquer elemento existente, foi originado das modificações sofridas pelo fluido cósmico universal.
        Nossos órgãos seriam como pilhas impregnadas de fluido vital. O corpo, um conjunto harmônico na sinfonia da vida. Os desarranjos, o desafinar, as doenças, tão mais perigosas quanto maior o desafino. Um microcosmos integrado, interdependente. O esgotamento fluídico, a morte!
        Esses elementos obedecem a uma lei de atração, integrando-se, agregando-se. A partir da matéria inorgânica de cada planeta, o espírito molda sua “veste” semimaterial, o perispírito, na velocidade do relâmpago. Em cada planeta, uma veste, um corpo etéreo, pois, só assim, poderão interagir com a matéria local. Para estar vivo, porém, os humanos necessitam de outro elemento, o princípio inteligente, o espírito...

        A robótica e a informática atuais trazem novas e instigantes questões sobre as fronteiras da vida e da inteligência. Poderia um espírito encarnar num robô? Poderíamos chamar a inteligência artificial de inteligência? Quantas surpresas nos reservam esse futuro cibernético? 

domingo, 7 de maio de 2017

Morte por Divina Encomienda


Série: Historiemas
História Geral e do Brasil; História Global: O Paraíso Destruído, Frei Bartolomé de Las Casas, Brevíssima Relação da Destruição das Índias

Olá galerinha do ouro e das biju, do além mar, das heranças, da renda e do trabalhado análogo à escravidão...

Século XVI,

    Conquista e invasão do continente americano pelos europeus, pioneiramente portugueses e espanhóis...
       Milhões de indígenas... mortos nas guerras de conquistas, mortos nas devastadoras epidemias.
       Dois grandes impérios, inca e asteca, sucumbem diante das artimanhas espanholas. Contradições e conflitos internos habilmente exacerbados pelos ambiciosos conquistadores ibéricos.
   Mita e encomienda, formas de recrutar mão de obra para um trabalho compulsório que desestabilizou ainda mais os já fragilizados sobreviventes às guerras do início desse sangrento século.
        O europeu redescobriu o que havia de pior em si mesmo...
     
       
        Tenochitlan
        A cidade prometida
        Dos reis de Leão e Castela?
        Prometida pela InterCoetra, por Tordesilhas?
        A Veneza americana, mexica, pré-colombiana
        Portentosa, erguida sobre pântanos
        Sucumbe ao ataque de almas pantanosas, espanholas

        Cusco
        O umbigo desterrado de um novo mundo, um mundo velho
        Agora, todos os caminhos levam a Lima ou Potosí, Sevilha
        Encomendam a morte, encomendam os índios
        Minam milhares de vidas

        Minam e mineram, minam e mineram
        Extraem a prata, extraem o ouro, o açúcar, algodão
        Extraem a alma que julgavam
        Existir Não

        Eram tantos quanto formigas no formigueiro
        Suplicaria um tal Las Casas
        Deserto...

        Zombavam do Deus espanhol
        Pois nos olhos de seus fiéis
        Não viam senão o reflexo do inferno
        Para o qual eles estavam condenados na subvida presente
 
Espero que tenham gostado e até o próximo post!

sexta-feira, 5 de maio de 2017

No princípio era o Caos e... hoje também um pouquinho...



Olá galerinha... galerinha? Oi? Parece que no princípio não havia ninguém... Deus...?

Série: Redações
O Livro dos Espíritos
Autor do livro: Allan Kardec
Capítulo III: Da Criação


              Se nós somos os observadores do universo, Deus seria o Observador por excelência. Poderia a organização molecular da água transformar-se  pela ação das palavras? Para o japonês Masaru Emoto, sim, apesar dos seus inúmeros críticos! Seguindo adiante, “pratrasmente”, encontramos Zeno, o filósofo grego de Eleia, o filósofo dos paradoxos(c.500-f.c.450). E daí? E daí que, em 1977, dois físicos indianos, Misra e Sudarshan, ao estudarem sobre a inibição da transição entre autoestados de um átomo devido às medições frequentes, batizaram o fenômeno de Efeito Zeno Quântico. Ahn? O quê? Como? Por trás desses nomes complicados, reside uma possibilidade perturbadora: o observador afeta o objeto observado? A intenção e a vontade funcionariam como agentes em si? Nesses estudos dos indianos, o movimento das partículas subatômicas cessava (congelava) no momento em que eram medidas/observadas. Por quê? Caso essa conclusão seja provada, as palavras do Gênese passam a fazer um assombroso sentido, pois Deus teria criado o universo a partir da Sua Vontade, da Sua Palavra.
           Segundo O Livro dos Espíritos, o chamado fluído cósmico universal, tratado no texto anterior, constituiria o elemento fundamental, do qual teria sido formada a matéria pesada, do mesmo modo que as moléculas orgânicas. Talvez o fluído verse sobre as águas primordiais do primeiro livro bíblico. A matéria pesada gradualmente foi condensando-se para formar todos os corpos celestes, enquanto as moléculas orgânicas aguardavam as condições propícias ao desabrochar da vida, no início em estado latente. Devido às inúmeras composições químicas, peculiares de cada globo, a vida desenvolveu-se adaptada às mais distintas circunstâncias, fato esse, vislumbrado, na própria Terra. Terra que, do ponto de vista espiritista, ocupa um lugar periférico no concerto universal.
              Todos os mundos são habitados, declararam os espíritos, contudo, essa habitação não se dá, forçosamente, na dimensão física, terrena. Muitos mundos seriam estéreis em nossa dimensão e, por isso, seria inútil vasculharmos com nossos instrumentos obtusos. Deus não fez nada inútil. Planetas e estrelas desempenham um papel muito mais importante que recrearem as nossas vistas terráqueas, vistas estas, tão antolhadas. Muitos de nós ainda continuamos presos às alegorias bíblicas, fundadas em tradições culturais castradoras do pensamento.
           E de onde teríamos vindo? Em estado latente, tais quais todas as espécies do universo, nossos corpos ou ao menos seus menores componentes repousavam no fluído cósmico, até emergirem no momento propício. Somos poeira das estrelas, dizem nossos cientistas atuais. As moléculas e átomos presentes em nossos corpos foram gestados no interior de estrelas, hoje mortas, porém vivas em nós. Seguindo o racismo científico, oitocentista, o livro utiliza o termo raças para qualificar os tipos humanos, elencando o clima e a geografia como causas dessas diferenças, sem, contudo, desqualificar nenhuma raça “a priori”, por motivos de cor, pertencendo todas as raças à mesma espécie humana. Kardec, entretanto, faz comentários, nitidamente racistas, atestando sua ignorância acerca do continente africano, reputado, segundo ele, como a terra de selvagens inferiores. Para quem acredita na veracidade das psicografias, vale a pena comparar as respostas dos espíritos com os comentários do Codificador, sempre tendo em mente a não onisciência dos espíritos.
          Contrastando com as teorias hegemônicas atualmente (monogenismo), o Livro dos Espíritos advoga pelo poligenismo, ou seja, o homem teria surgido em várias épocas e lugares distintos e não unicamente na África, para de lá espalhar-se pelo mundo. Ainda assim, caso se considere esse homem, enquanto “homo sapiens”, desconsiderando os hominídeos anteriores, talvez seja possível uma conciliação de visões. Mas são apenas especulações, em meio a um terreno tão nebuloso quanto as eras anteriores ao Neolítico. É prudente esperarmos por mais descobertas científicas, se quisermos elucidar essa história imemorial.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

As cordas espiritistas



Olá galerinha microscópica do bem e transdimensional do mal, afinal toda matéria tem sua anti-matéria, ou não? Acho que não né... 
Ao tocar suas harpas, violões, violinos, violoncelos e todas as cordas celestes... Deus disse: -Faça-se o Multiverso!

Série: Redações
Livro dos Espíritos
Autor do livro: Allan Kardec
Capítulo II: Dos elementos gerais do universo


     Uma pergunta, dentre outras, intriga nossos cientistas contemporâneos: qual a composição do universo? Físicos, astrofísicos, astrônomos, cosmólogos, químicos debruçam-se sobre esse mistério. Acreditam ser composto por, aproximadamente, 4% de matéria ordinária (bariônica), 22% de matéria escura e 74% de energia escura. O qualificativo “escura” refere-se ao desconhecimento desses elementos, deduzidos a partir de observações indiretas, por exemplo, dos seus efeitos na gravidade dos corpos celestes. As teorias do Big Bang assim como da expansão do universo eram inviáveis, caso fossem apenas contabilizados os dados da matéria ordinária.
     Fato notável, envolvendo esses elementos escuros, é a sua invisibilidade diante dos mais modernos instrumentos de observação/medição, ou seja, não podemos observá-los diretamente, mais que isso, eles constituem o vácuo do espaço. O vazio não tão vazio. Seriam eles, o fluído cósmico universal, enunciado pelos espíritos, na primeira metade do séc. XIX?  Aquela substância semimaterial, imponderável e invisível aos nossos instrumentos, mas que, ainda assim, é matéria e tudo preenche? Uma matéria distinta daquilo que chamamos convencionalmente de matéria. Um elemento primitivo do qual derivariam todos os outros. O embrião cujo magnetismo e cuja eletricidade são seus desdobramentos. Essas seriam as características do fluído cósmico, substância intermediária entre a dimensão física e a espiritual.
     Avançando no rol das semelhanças, nos deparamos com a teoria das cordas. Essa teoria pretende unificar a Relatividade einsteiniana com a mecânica quântica, porém, carece de provas empíricas. Não deixa de ser provocante a ideia esotérica, nela implícita, de que “Tudo é Um”. Tudo o que existe no universo visível ou invisível derivaria de um único elemento primordial, combinado e organizado das mais diversas formas. Vibrando das mais variáveis maneiras, diriam os teóricos das cordas. Um ultramicroscópico filamento essencial, capaz de originar toda a matéria conhecida ou desconhecida, ao vibrar em frequências dessemelhantes.
     Segundo os espíritos, no Livro dos Espíritos, o universo seria composto de três elementos fundamentais: a matéria grosseira, a matéria etérea e o princípio inteligente. A teoria das cordas admite a concepção de sete dimensões além das quatro conhecidas (comprimento, largura, profundidade e tempo), casando mais uma vez com as teorias multidimensionais espiritistas, as quais vinculam as dimensões invisíveis à matéria etérea.
       Foi singular  um livro de meados do séc. XIX afirmar o quão distantes os cientistas estavam da partícula basilar. A afirmação foi anterior aos experimentos de Goldstein e Rutherford, 1886 e 1904, respectivamente, descobridores dos prótons. Afirmação igualmente anterior à descoberta dos elétrons por Joseph John Thomson, em 1897, ganhador do Nobel de Física, em 1906. Isso sem esquecer os quarks, partículas subatômicas, pesquisadas por físicos como Gell-Mann e Zweig, na década de 60, já no séc. XX! Sendo patente a existência de partículas ainda menores, investigadas, atualmente, no Grande Colisor de Hádrons ou LHC.

         Outra assertiva desconcertante alude aos estados da matéria: “(...). Mas a matéria existe em estados que ignorais (...)” [Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos, pág 72, 14 ed. de bolso – Rio de Janeiro: FEB, 2007]. Mais de um século e meio depois, já se fala em, no mínimo, 5 ou 7 estados da matéria, além dos estados clássicos: sólido, líquido e gasoso. Seja como for, melhor nos eximirmos de declarações categóricas, uma vez que já blasfemei nesse texto, ao mencionar o espiritualismo tão próximo da física. O fato é a existência de um gigantesco e promissor campo de investigações, a certeza de muitas dúvidas. Contudo, percebemos a relevância de um livrinho centenário, um ancião ousado. O Universo (ou multiverso...) uma grande sinfonia? E nós? Notas desafinadas, fora do tom? 

Façamos um Deus a nossa imagem e semelhança?



Olá galerinha do bem e do mal, do céu e da terra, do divino e do mortal...

Série: Redações
Livro dos Espíritos: cap. I
De Deus:

     Perfeito, infinito, eterno, incriado, soberanamente justo e bom. Suprema Inteligência, Onisciência, Onipotência, Onipresença. Amor universal. Deus. Esses seriam os principais atributos divinos, conhecidos pelo homem para qualificar o Ser Supremo, sem, com isso, abrangê-Lo completamente. Esta é a visão dos espíritas, em especial, e dos cristãos e outros monoteístas, em geral, divergindo das demais religiões, politeístas, por exemplo.
     É sabido que, em todos os tempos e lugares, nas mais diferentes culturas, sempre houve um espaço notável, muitas vezes central, para as crenças que pressupunham vida além da morte, além da matéria, cultos religiosos, mentalidades espiritualistas, permeando os mais diversos cotidianos. O além, assim como Deus ou os deuses, foi pintado de muitas cores à imagem e semelhança dos respectivos povos.
        Após a vitória das academias sobre as igrejas, os cientistas, sacerdotes de nossa era, impuseram o desencanto do mundo, as verdades metrificadas, laboratoriais. Paladinos da matéria, empreenderam todos os esforços, a fim de varrer a superstição, o maravilhoso, o sobrenatural, símbolos de obscurantismo, de ignorância e atraso, próprios das eras pré-científicas. No entanto, aquele instinto do divino, que anima todos o povos, estava longe de morrer, malgrado as inúmeras tentativas de aniquilá-lo. Inclusive nas academias, ele florescia até mesmo em mentes einstenianas.

           Segundo o cap. I do Livro dos Espíritos, cientistas e politeístas confundem causa com efeito, ainda que tirem daí conclusões distintas. Orgulho e ignorância turvariam a mente humana, ao enxergarem na matéria a causa de tudo ou, nos fenômenos naturais, variadas divindades. Muito estudo, silêncio e meditação se fazem necessários, caso queiramos, ao menos, vislumbrar a verdade. Deus fala no silêncio, se mostra no vazio e a tudo preenche. Desse modo, ensinam os espíritos: “O Nada não existe”.

As Maçãs Girantes



Olá galerinha do bem e do mal! Após longa hibernação, retorno com a série redações, referentes aos livros que estou lendo. Espero que gostem!

Série: Redações
O Livro dos Espíritos
Autor do livro: Allan Kardec
Introdução


    
     Estamos no  séc. XIX da Europa cientificista. A Europa “civilizada, ilustrada”. No entanto, elas giram. As mesas giram, batem, erguem-se no ar. Mero entretenimento, diversão? Obra de hábil prestidigitador? Mas onde o lucro? Por que tamanha difusão mundial? Ilusão de ótica? Alucinação coletiva? Seria uma epidemia literária, religioso-filosófica? Um novo fenômeno físico, tal qual o magnetismo, a eletricidade ou, ainda, efeitos desconhecidos destes? Um efeito inteligente demanda uma causa inteligente? No entanto, elas giram. Giram da Europa à América e talvez girassem alhures, se não fosse a estreita perspectiva eurocêntrica. Giram em choupanas, casebres, palácios. Antes que alguém as explique, explicam-se. Dizem para que vieram: “ Somos Espíritos”.
       A maneira da prosaica “maçã newtoniana”, escondiam, também, fantásticos segredos da Natureza. Essas mesas frenéticas iriam revelar todo um universo sobreposto ao nosso. Pelo menos foi assim que pensou o pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail de Lion, futuramente conhecido como Alan Kardec. Não só ele como vários observadores, pensadores e curiosos antes e depois dele. Assim, um novo nome foi cunhado, Espiritismo, a fim de diferenciá-lo das demais correntes espiritualistas. Mais que isso, toda uma nomenclatura emerge, repleta de neologismos e ressignificações como: médium, perispírito, fluído cósmico universal, erraticidade etc.

          Essa nomenclatura lastreou uma nova doutrina, referenciada nas chamadas revelações dos espíritos, nas quais ecoavam diversos ensinamentos antigos: reencarnação, comunicação com o além, evocações, magnetismo animal, regiões celestes ou infernais, moral evangélica, um Deus Supremo. Sem embargo, suas peculiaridades, incluindo as curiosas comunicações, psicografias e sua sistematização doutrinária, lhe valeram o status de nova filosofia religiosa com potencial universalizante, contudo, sem as pretensões proselitistas tradicionais. Seria o Espiritismo capaz de reconciliar ciência e religião? Os espíritas dizem “sonoro sim”. Quanto aos céticos, esses ainda não se deram ao trabalho de se debruçarem seriamente sobre um assunto tão insignificante, na opinião deles, digno de suas piadas desrespeitosas. No entanto, elas giram?