O Livro dos Espíritos
Autor do livro: Allan Kardec
Autor do livro: Allan Kardec
Parte Segunda: Capítulo II: Da Encarnação dos
Espíritos
Olá galerinha do mal que ficou do bem, hoje o assunto é evolução. Evoluímos?
24 de novembro de 1859, Charles Darwin, o
naturalista britânico, publica “On Origin of Species” (A Origem das Espécies),
causando uma verdadeira revolução paradigmática que ecoaria até os dias de
hoje. Imaginemos a afronta representada por esta obra à já ferida Igreja Católica
e por que não dizer, também, às Igrejas Protestantes. Em outros tempos, certas
chamas poderiam tê-lo atingido, no entanto, não pouparam, em 1861, a queima de
300 livros espíritas, numa cena dantesca, protagonizada pelo bispo de
Barcelona. Essa foi, literalmente, a primeira prova de fogo do espiritismo,
quatro anos posteriores à publicação do “Livro dos Espíritos”, em 18 de abril
de 1857! Sim, este livro espiritista antecedeu em dois anos “A Origem das
Espécies”, logo suas ideias não poderiam ser atribuídas ao pai do
evolucionismo. Segundo os espíritos, as ideias pairam na psicosfera (atmosfera
psíquica emanada pelas mentes), irradiam-se e manifestam-se, nos mais
diferentes lugares, de acordo com as capacidades de cada encarnado. A revolução
industrial assim como a invenção do avião parecem corroborar essa tese.
É no mínimo intrigante a concepção de um
universo em constante evolução, universo multidimensional, planetas passando
por estágios evolutivos, sem esquecer todas as criaturas vivas encadeadas numa
sucessão de patamares inumeráveis, perpassando dimensões materiais e espirituais,
sendo os espíritos humanos angélicos, o estágio supremo, apenas abaixo do Ser
Criador. Todos os seres interconectados, em perfeita harmonia, sob caos
aparente. Uma cadeia evolutiva ininterrupta, uma complexa rede de relações,
vinculando a mais simples molécula aos complexos seres espirituais,
multidimensionais. Sim, nossos corpos humanos vibram em múltiplas dimensões,
das quais temos consciência, somente, da mais material. Universo mais dinâmico,
mais mutante difícil de conceber. São ideias assustadoras até mesmo para um
revolucionário como Darwin. Sem embargo, foram veiculadas antes do impacto de A
Origem das Espécies e tiveram seu impacto próprio, mesmo sendo associadas pelos
seus detratores a um obscurantismo supersticioso.
A reencarnação figura no espiritismo
como uma necessidade, uma misericórdia divina, uma prova da Justiça, uma
solução racional para um sem número de questões filosófico-morais e mesmo biofísico-espirituais.
Uma resposta às grandes questões existenciais. Mérito e liberdade são suas
palavras-chaves. Não há progresso sem trabalho, dizem eles. Não há mérito sem
esforço, não há conquista efetiva. Deus nos teria criado espíritos simples e
ignorantes, a fim de tornar a felicidade eterna uma conquista nossa, não uma
simples dádiva de eleitos. Deus nos elege na medida de nossos esforços. Do
mesmo modo, o Ser Supremo não quis criar robôs automatizados, já “perfeitos”,
seguidores incontestes de Suas ordens. Ele não é tirano, por isso nos concedeu
o livre-arbítrio, a possibilidade de desobedecê-Lo. Contudo, criou Leis Eternas
e inexoráveis, estas sim, perfeitas desde sempre, reguladoras do Universo. A
Vontade divina para conosco resume-se numa palavra: FELICIDADE. Para tanto, as
leis celestes nos impedem de permanecermos indefinidamente estacionários,
rebeldes e nos impelem ao progresso cedo ou tarde. Por isso, o sofrimento
representa a principal advertência divina sobre nossas imperfeições, nossos
desequilíbrios, nossa necessidade de ajuda, de melhorar.
Uma vida já eterna. Muitas vidas numa
vida só. Eis o resumo das sucessões de encarnações. O elemento espiritual
preexistente é imperecível, daí decorre a imortalidade do espírito, desde sua
criação. A felicidade eterna, uma conquista inevitável, objetivo supremo das
encarnações. Cabe ao espírito ser perfeito em tudo, para gozar plenamente a
felicidade, acumular saber em todas as áreas do conhecimento, incluindo áreas
desconhecidas da humanidade terrestre. Todavia, somos tão livres quanto
falíveis e essa falibilidade pode manifestar-se desde pequenos incidentes até
grandes atrocidades. Ainda assim seria realmente justa uma pena eterna? Eterna!
Temos noção do que seja eternidade, do que seja um suplício eterno? Soa
coerente com a ideia de um Deus de Amor? Soa coerente com o exemplo dado pelo
maior representante de Deus? Aquele que perdoou seus torturadores?! Ver alguém
sendo torturado já é bastante desagradável, pra dizer o mínimo. Imaginemos um
Deus Onipresente, assistindo eternamente essa cena com bilhões de filhos
seus... Nem o marquês de Sade seria tão sádico. Isso sem contar a incoerência
da Onisciência, porque teria criado seres destinados ao suplício. Essas
reflexões encontram-se todas no livro dos espíritos e em outras obras do
chamado pentateuco espírita.
Em qual escala estariam os humanos
terrestres na classificação dos espíritos? Numa escala bem baixa, eles afirmam.
A Terra estaria na classe dos planetas inferiores, lembrando que os critérios
são predominantemente espirituais e não devem ser confundidos com as ideias de superioridade
e inferioridade do senso comum. Basicamente eles avaliam a amorosidade e a
intelectualidade de uma dada sociedade ou indivíduo, dispondo para isso de
meios muito mais eficazes que nós, encarnados. Não seria difícil perceber a
discrepância entre a evolução moral (moral evangélica, “crística” nesse caso) e
a evolução intelectual na Terra, predominando a segunda em detrimento da
primeira. Avançando no sentido das concepções católicas, o termo “anjo”, no
espiritismo, refere-se aos espíritos puros, evoluídos, enquanto os demônios
seriam espíritos impuros ou imperfeitos, haja vista não existir, na perspectiva
espiritista, espaço para criações sectárias na Natureza, criações não
vinculadas ao Todo, criaturas especiais já perfeitas ou, para sempre, más. Dito
de outro modo, todo anjo já foi demônio (imperfeito) e todos são espíritos como
nós. Os humanos terrestres que não existem de toda eternidade, ao entrarem em
contato com espíritos angélicos acreditaram que estes eram assim desde sempre,
da mesma maneira julgaram os espíritos impuros cujas maldades podem remontar
milênios. Deus cria e criou sempre, por isso, por mais que recuemos no tempo,
encontraremos uma infinidade de criaturas, planetas e espíritos perfeitos ou
imperfeitos. Isso desafia as limitações da mente humana, mas eles declaram que
assim é.
A ciência do século XIX não havia dito a
última palavra sobre os segredos e horizontes da Natureza, nem poderia, da
mesma forma que nossa ciência cibernética reconhece uma infinidade de perguntas
não respondidas ou mal respondidas. Os espíritos nos admoestaram nesse sentido
e suas observações continuam valendo. Não deveríamos preencher lacunas de
ignorância com devaneios e leviandades, antes, devemos nos focar em estudos
criteriosos. Kardec teria assinado essa última frase para aqueles que veem no
espiritismo mero devaneio de pessoas ignorantes, crédulas, incapazes de encarar
o vazio da matéria. O vazio da matéria não poderia ser mais irônico. Cada vez
mais a matéria se apresenta como grandes espaços “vazios” ou campos energéticos
difíceis de compreender. O que há além da matéria? Existe algo além, na própria
matéria? Antimatéria, matéria escura, energia escura e tantos outros elementos
estranhos não param de assombrar os cientistas que resistem bravamente, no seu
materialismo inveterado.
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