domingo, 6 de setembro de 2015

O Imperativo da Sabotagem



Olá galerinha do venha a mim o vosso reino e seja feita essa nossa vontade assim, apenas na vossa terra,


     Tomando como exemplo, os processos de independência nas Américas, nomeadamente, Brasil e Estados Unidos, algo, no mínimo, curioso salta aos olhos. Existe por parte das respectivas metrópoles, Portugal e Inglaterra, um recrudescimento das leis referentes às suas colônias, no momento em que ideias autonomistas, pululam nesses espaços americanos, sejam as leis do Selo e do Chá da segunda metade do século XVIII, além do envio de tropas inglesas para as Treze Colônias, seja a tentativa por parte das Cortes portuguesas de anular o novo estatuto de Reino do Brasil, no início do século XIX.
    Essas atitudes metropolitanas parecem óbvias e, de certa forma, o são, uma vez que havia a vontade em manter a lucrativa colonização e não existia a possibilidade de admitir uma concorrência com as próprias colônias, muito menos uma inversão de papéis. No entanto, a Inglaterra, pioneira da industrialização, propagadora dos valores liberais, na esteira do iluminismo, assume uma posição de bastião do arcaísmo, quando o assunto diz respeito a sua colônia, com medidas protecionistas, monopolistas e autoritárias.
     Em Portugal, ocorreu situação semelhante. Após as invasões napoleônicas e sua consequente transferência (fuga) da família real para o Rio de Janeiro, os súditos da metrópole sentiram-se ultrajados por tornarem-se periferia do império e ansiaram pela reversão desse quadro. Embebida pelos valores liberais, a Revolução do Porto (1820) convocou as Cortes de Portugal que logo se transformaram Assembleia Constituinte, seguindo o exemplo recente da Espanha. E foi, exatamente, nessa Assembleia de cunho liberal, que os deputados lusitanos insistiram na reestruturação do exclusivo colonial entre outras medidas arcaizantes, sendo intransigentes com as propostas autonomistas dos delegados brasileiros.
     Apenas a título de reforço, a primeira Constituição francesa de 1791, em plena Revolução, proclamadora da igualdade civil, supressora dos privilégios nobiliárquicos e das ordens sociais, aquela que nacionalizou os bens da Igreja e aboliu a servidão, foi a mesma capaz de manter a escravidão nas suas colônias, sendo a França pré-revolucionária e absolutista um apoio fundamental para a Independência dos Estados Unidos. O governo da Convenção jacobina ousou remar na direção contrária, abolindo a escravidão colonial, porém sua duração foi curta. Contudo, essa mesmíssima Convenção instituiu o Terror, guilhotinou líderes populares, afastando o apoio dos sans-cullotes. Quantos jogos de interesses, quantas lutas internas e externas!...
      É interessante notar o grau acentuado de sectarismo nas diferentes sociedades, inclusive no interior delas. Nesses casos, sumariamente exemplificados, observam-se dois processos contrários, mas, aparentemente, vistos como complementares pelos seus protagonistas. As lutas pelas liberdades em vários âmbitos, incluindo o comercial, acompanham as lutas pela dominação, pela castração, pela possibilidade de exploração colonial, pelo imperialismo. Tudo isso ocorre sem o menor senso de empatia ou de “contraditoriedade” daqueles que encampam tais projetos. Seria como se existisse um pressuposto: a prosperidade alheia ameaça a minha prosperidade e, por isso, devo impedi-lo a todo custo, hegemonizando meus interesses acima dos deles.
   Esse pressuposto da escassez, da mesquinhez, orientou, notadamente, os Estados Unidos, após sua ascensão global. E assim eles fizeram aos outros países, justamente, aquilo que não queriam que a Inglaterra tivesse feito a eles: intervenção no próprio Brasil, no Panamá, Nicarágua, Chile, México, Vietnã, Iraque etc. Até o Brasil teve, também, seus ímpetos imperialistas. Não surpreende que as tão publicizadas ajudas internacionais, muitas vezes, não passam de maneiras maquiadas, a fim de criarem dependências, não importando mais o controle territorial direto. Será tão produtivo angariar tantos esforços contra nós mesmos¿ Vivemos em quantos planetas¿ Fazemos parte de quantas espécies¿

Espero que tenham curtido e até o próximo post!

Abraços!      

O Sistema da Dívida: Vídeo de utilidade pública!

https://www.youtube.com/watch?v=yUpVQu9WHyQ

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Ilumishima Ilumosaki



Olá galerinha Aliada e galerinha do Eixo e do desleixo,

      No dia 6 de agosto de 1945, ocorreu o coroamento das atrocidades iniciadas em 1939, talvez em 1914, ou, quem sabe, desde tempos imemoriais. A Guerra que encarnou a parte mais horrenda da noção de desrazão, pareceu devastar não somente territórios como o próprio ideário iluminista. O mesmo Iluminismo, o qual abrilhantou uma Europa setecentista, permeou revoluções, aflorou pensamentos liberais, democráticos e socialistas, terminou por explodir nos descaminhos dessa Guerra. O clímax do conhecimento científico aplicado da maneira mais baixa possível. Nesse ínterim, ordem e progresso foram duramente questionados, assim como os alardeados benefícios da tecnologia industrial.
    A teoria da relatividade geral (1915), que balançou os alicerces da Física, gradativamente, envolveu as ciências humanas, fosse alargando pontos de vista, fosse flertando com o niilismo. Todo o progresso relativizava-se e, para muitos, perdia o sentido. O conceito de práxis utilizado por Paulo Freire parece ser bastante pertinente nesse caso. A experiência reflete o pensamento humano, assim como este reflete a experiência. Ainda que muitas teorias sejam formuladas no interior alienante dos gabinetes, bibliotecas ou escritórios, as experiências cotidianas não deixam de testá-las, contestá-las, revisá-las ou subvertê-las. Nesse caso, a experiência traumática da Segunda Guerra, seguida de perto pela ferida ainda aberta da Primeira, promoveu a ascensão de ideias que consolidariam os pós-modernismos, no final do século XX.

      A crença na razão, na ciência como depositária da verdade e do progresso, advindo de ambas, foi seriamente afetada a partir desses anos beligerantes, recheados de insanidade, justamente, quando a ciência foi apropriada pelas nações imperialistas a fim de alcançar seus objetivos torpes. Mesmo assim, o Iluminismo continua a destilar-se nos nossos dias. Os cacos de seu pensamento universalista ainda possuem a chance de brilhar, caso aqueles que os recolham estejam dispostos à flexibilização. Afinal, intransigências de tipo positivista não cabem mais a essa humanidade pós-Guerra, pós-século XX, para a qual a ciência reserva um futuro tão extraordinário quanto incerto.


Espero que tenham curtido e até o próximo post!

Abraços!