No
dia 6 de agosto de 1945, ocorreu o coroamento das atrocidades iniciadas em
1939, talvez em 1914, ou, quem sabe, desde tempos imemoriais. A Guerra que encarnou
a parte mais horrenda da noção de desrazão, pareceu devastar não somente
territórios como o próprio ideário iluminista. O mesmo Iluminismo, o qual
abrilhantou uma Europa setecentista, permeou revoluções, aflorou pensamentos
liberais, democráticos e socialistas, terminou por explodir nos descaminhos
dessa Guerra. O clímax do conhecimento científico aplicado da maneira mais
baixa possível. Nesse ínterim, ordem e progresso foram duramente questionados, assim
como os alardeados benefícios da tecnologia industrial.
A teoria da relatividade geral (1915), que
balançou os alicerces da Física, gradativamente, envolveu as ciências humanas,
fosse alargando pontos de vista, fosse flertando com o niilismo. Todo o
progresso relativizava-se e, para muitos, perdia o sentido. O conceito de práxis
utilizado por Paulo Freire parece ser bastante pertinente nesse caso. A
experiência reflete o pensamento humano, assim como este reflete a experiência.
Ainda que muitas teorias sejam formuladas no interior alienante dos gabinetes,
bibliotecas ou escritórios, as experiências cotidianas não deixam de testá-las,
contestá-las, revisá-las ou subvertê-las. Nesse caso, a experiência traumática
da Segunda Guerra, seguida de perto pela ferida ainda aberta da Primeira,
promoveu a ascensão de ideias que consolidariam os pós-modernismos, no final do
século XX.
A crença na razão, na
ciência como depositária da verdade e do progresso, advindo de ambas, foi
seriamente afetada a partir desses anos beligerantes, recheados de insanidade, justamente,
quando a ciência foi apropriada pelas nações imperialistas a fim de alcançar seus
objetivos torpes. Mesmo assim, o Iluminismo continua a destilar-se nos nossos
dias. Os cacos de seu pensamento universalista ainda possuem a chance de
brilhar, caso aqueles que os recolham estejam dispostos à flexibilização.
Afinal, intransigências de tipo positivista não cabem mais a essa humanidade
pós-Guerra, pós-século XX, para a qual a ciência reserva um futuro tão
extraordinário quanto incerto.
Espero que tenham curtido e até o próximo post!
Abraços!
Nessa postagem recordo minha professora goiana maravilhosa (Laura de Oliveira): "os universais da ilustração partidos em mil pedaços!"
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