17/09/2017
Série:
Contos: Ânimo-Teórico-Metodológico
Autor:
Mg Amaral
Açúcar, ovos, fermento, farinha,
chocolate, morango, creme de leite, leite condensado, ameixa, limão, biscoitos,
maçã, etc, etc, etc. Quantos bolos possíveis? Quantos bolos deliciosos? Quantos
bolos desastrosos? Tantos péssimos cozinheiros tão bem estudados! Tantos outros
bons, desconhecendo os Universos universitários. A Vontade da Força. O
ingrediente secreto, Amor? Mexe pra lá, mexe pra cá, por 10, 15, 20 minutos
contados, recontados. Mas os ingredientes foram animados, estão vivos. Aí,
complicou!
Cada um pretende a prevalência do seu
sabor, do seu traço. Quero de morango. Não, de chocolate! Limão, limão, limão! Os ingredientes se empurravam uns aos outros,
nada de obedecer à fila, nada de levantar as mãos. Era bolo ou torta, quente ou
gelado. O tempo era curto. A cozinha, uma só. Necessário escolher. A escolha da
frustração, da realização. A Chef de cozinha precisava pôr ordem naquilo, impor
ou expor? Ela já ouvira falar de muitas ordens, contudo conhecia uma de muito
tempo, de desde sempre que, bem ou mal, parecia funcionar. Grita, bate na mesa,
e um pouco do chocolate acerta suas bochechas. O limão quase respinga nos seus
olhos, o choro seria inevitável. Por que esses ingredientes tornaram-se
animados? Ah, o passado idílico, todos tão quietinhos, esperando ser postos, em
seus devidos lugares.
A receita boa é essa! Eu estudei, eu sei!
Minha experiência autoriza enfiar isso goela abaixo de todos vocês! Onde já se
viu ingrediente animado? Voltem a seus lugares! Não era animação, era puro
terrorismo! O tempo passava, a teoria do caos vivida na prática. O instituto
não sei das quantas encomendara. Metas são metas, precisava cumprir. O emprego,
o salário, todos os anos naquele Universo, agora, tão paralelo. Eles teimavam
em se animar, verdadeiros looney
ingredientes, lunáticos. Por um momento a Chef quase achou graça. Havia graça
para achar? O que vocês estão fazendo aqui? Qual o seu objetivo? Quem vocês
pensam que são, afinal? Silêncio... total! Tudo se aquietou, eles não sabiam. De
repente, ela própria, enredada na rede silenciosa, percebeu que também não.
Metade do tempo já virou pretérito imperfeito. A cozinha, uma verdadeira arte
contemporânea com seus respingos de tudo, em todos os cantos.
Em breve, chegaria um crítico gastronômico.
Homem importante, de fora, de longe. A palavra, em forma de lei, como aquelas
leis do mais alto dos céus. Diante dele, a Chef não passava de mero mortal.
Mesmo assim, as réguas daquele sujeito pareciam tão arcaicas. O mundo não seria
muito mais que altura e largura? Ela ainda não sabia as respostas das próprias
perguntas, só sabia os silêncios intermináveis. Os ânimos arrefeceram por um
tempo, mas permaneceram latentes, patentes. A curiosidade aguçada decide
encontrar as respostas desses silêncios que a todos permeavam. Olhares meio
desconfiados foram trocados. As mãos timidamente estendidas. Aperto. Iriam
descobrir juntos e o crítico que tentasse engolir aquele ânimo renovado!
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