segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Aprendendo a Ensinar


27/05/2017
Série: Redações
Pedagogia da Autonomia
Autor do livro: Paulo Freire
Cap. I: Prática docente : primeira reflexão


     Aprender é um processo contínuo, ininterrupto, diversificado. Aprendemos desde o nascimento até o momento da morte, o último respirar. A prática do ensino não seria diferente. Ensinar integra o processo de aprendizagem, seja ele formal ou informal. Aprendemos enquanto ensinamos e aprendemos a ensinar enquanto somos ensinados. Paulo Freire identifica esse processo de ensino-aprendizagem onde educadores e educandos constituem um continuum, elementos intrinsecamente interligados. Uma relação muito mais horizontal e dialética.
      O livro inteiro versa sobre o que ele denomina de exigências do ensinar. A cada capítulo nos são apresentadas uma lista daquilo considerado fundamental à prática educativa. Faremos aqui análises sumárias acerca de cada exigência com vistas à estimular a leitura da obra completa.
       Rigorosidade metódica. Freire inicia frisando a importância do rigor metodológico, próprio do procedimento científico sem o qual a prática docente careceria de credibilidade e seriedade. O domínio dos conteúdos, a preparação das aulas, tudo deve girar em torno da qualidade do ensino. Contudo Freire critica o denominado por ele de ensino bancário, focado no acúmulo excessivo de conteúdos desconectados da realidade sócio-politico-econômica do estudante. Os conteúdos deveriam emergir da realidade concreta, não como um laisser-faisser, mas sob orientação metódica do educador que valorizaria o aprendizado originado nas vivências cotidianas, na empiria, no senso comum.
        Pesquisa. Basicamente o autor invalida a dicotomia existente entre professor e pesquisador. Lecionar e pesquisar seriam duas faces da mesma moeda. O processos necessários ao ensinar seriam impensáveis sem a pesquisa científica. Mais que isso, a própria pesquisa seria um trabalho vazio sem o ensino, associado a divulgação, propagação dos objetos pesquisados.
       Complementando a ideia de horizontalidade e conexão dos conteúdos à realidade dos estudantes, faz-se imprescindível o respeito aos saberes adquiridos pelos estudantes no seu percurso de vida. Diferente de educadores mais antigos, Freire não acredita no aluno(ser sem luz própria) enquanto uma folha em branco, na qual o professor iluminado iria imprimir seus conhecimentos, transmiti-los unilateralmente. O ponto de partida do professor seria justamente a bagagem trazida pelo estudante, tomando cuidado com abordagens arrogantes que inferiorizam os aprendizes. Afinal, aprendizes somos todos, sempre.
         Pensar criticamente constitui um desafio. Ensinar a pensar criticamente, um desafio muito maior. Para Paulo Freire a criticidade representaria uma superação do paradigma originário e não uma ruptura com esse paradigma, nomeado por ele de curiosadade ingênua. Essa ingenuidade seria superada pela curiosidade epistemológica, de caráter cientifico a partir de reflexões e confrontos entre os conteúdos apresentados e a realidade concreta. A curiosidade, em essência, permaneceria a mesma, todavia seria criticizada, evidenciando o caráter sócio-político da educação. A educação jamais seria neutra, seja isso declarado ou não.
       Quem poderia pensar que vale tudo no exercício da docência? Honestidade, escrúpulos são valores fundamentais, inclusive para a construção de um conhecimento válido e validável. O autor chama de ética universal, o conjunto de princípios que devem regular a profissão docente a fim de torná-la viável. Quando nos deparamos com um autor com o qual discordamos, devemos ser justos em sua avaliação sem invisibilizá-lo ou colocar palavras na sua boca que ele jamais pronunciara. E para quem crê na irrelevância das formas em face ao conteúdo, Freire pondera. A estética seria igualmente primordial. A estética da sala de aula, a estética da própria aula, do falar, do agir. A estética da escola, das instituições. Tudo isso passa mensagens não verbais que corroboram ou contradizem nossos discursos verbalizados.
     Falando em discursos não verbais, precisamos lembrar do valor do exemplo. Nossa postura, atitudes, gestos, olhares, tons de voz. Nossa vaidade ou arrogancia em pequenas condutas. Nosso autoritarismo ao falar de democracia. Nossa indiferença para com nossos estudantes. A corporificação das palavras pelo exemplo permite que sejamos coerentes e multipliquemos nosso poder persuasivo.
      As turmas de estudantes são microcosmos da sociedade. Existe ali uma heterogeneidade, uma diversidade de ser e estar no mundo. Combater as muitas formas de discriminação é imperativo. Ao olvidar essas questões corremos sérios riscos de perder a atenção e consideração de muitos estudantes, além de permitirmos o crescimento das sementes do preconceito em cada um. Ensinar como qualquer atividade na vida, envolve riscos, por isso precisamos sair da zona de conforto se quisermos obter algum resultado relevante.
       Ensinar exige práxis, a reflexão sobre a própria prática. Os processos educativos são dinâmicos e sempre inacabados. Devido a isso a contínua reflexão sobre nossas práticas possibilita uma constante atualização de métodos e conteúdos, uma ampliação de nossos horizontes educacionais.

      Poder ser quem somos, integra um dos direitos mais básicos. Poder conhecer a nós mesmos, poder descobrir autonomamente quem somos. Permitir aos outros, serem quem são, permitir que sejam diferentes de nós. Autonomia que difere de independência e aí encontra-se o principal papel do professor, seu principal objetivo: contribuir para autonomização dos sujeitos, sua emancipação. 

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