27/05/2017
Série: Redações
Pedagogia da Autonomia
Autor do livro: Paulo Freire
Cap. I: Prática docente : primeira reflexão
Aprender é um processo
contínuo, ininterrupto, diversificado. Aprendemos desde o nascimento até o
momento da morte, o último respirar. A prática do ensino não seria diferente.
Ensinar integra o processo de aprendizagem, seja ele formal ou informal.
Aprendemos enquanto ensinamos e aprendemos a ensinar enquanto somos ensinados.
Paulo Freire identifica esse processo de ensino-aprendizagem onde educadores e
educandos constituem um continuum, elementos intrinsecamente
interligados. Uma relação muito mais horizontal e dialética.
O livro inteiro versa sobre
o que ele denomina de exigências do ensinar. A cada capítulo nos são
apresentadas uma lista daquilo considerado fundamental à prática educativa.
Faremos aqui análises sumárias acerca de cada exigência com vistas à estimular
a leitura da obra completa.
Rigorosidade metódica. Freire
inicia frisando a importância do rigor metodológico, próprio do procedimento
científico sem o qual a prática docente careceria de credibilidade e seriedade.
O domínio dos conteúdos, a preparação das aulas, tudo deve girar em torno da
qualidade do ensino. Contudo Freire critica o denominado por ele de ensino
bancário, focado no acúmulo excessivo de conteúdos desconectados da realidade
sócio-politico-econômica do estudante. Os conteúdos deveriam emergir da
realidade concreta, não como um laisser-faisser, mas sob orientação metódica do
educador que valorizaria o aprendizado originado nas vivências cotidianas, na
empiria, no senso comum.
Pesquisa. Basicamente o
autor invalida a dicotomia existente entre professor e pesquisador. Lecionar e
pesquisar seriam duas faces da mesma moeda. O processos necessários ao ensinar
seriam impensáveis sem a pesquisa científica. Mais que isso, a própria pesquisa
seria um trabalho vazio sem o ensino, associado a divulgação, propagação dos
objetos pesquisados.
Complementando a ideia de
horizontalidade e conexão dos conteúdos à realidade dos estudantes, faz-se
imprescindível o respeito aos saberes adquiridos pelos estudantes no seu
percurso de vida. Diferente de educadores mais antigos, Freire não acredita no
aluno(ser sem luz própria) enquanto uma folha em branco, na qual o professor
iluminado iria imprimir seus conhecimentos, transmiti-los unilateralmente. O
ponto de partida do professor seria justamente a bagagem trazida pelo
estudante, tomando cuidado com abordagens arrogantes que inferiorizam os
aprendizes. Afinal, aprendizes somos todos, sempre.
Pensar criticamente
constitui um desafio. Ensinar a pensar criticamente, um desafio muito maior.
Para Paulo Freire a criticidade representaria uma superação do paradigma
originário e não uma ruptura com esse paradigma, nomeado por ele de curiosadade
ingênua. Essa ingenuidade seria superada pela curiosidade epistemológica, de
caráter cientifico a partir de reflexões e confrontos entre os conteúdos
apresentados e a realidade concreta. A curiosidade, em essência, permaneceria a
mesma, todavia seria criticizada, evidenciando o caráter sócio-político da
educação. A educação jamais seria neutra, seja isso declarado ou não.
Quem poderia pensar que
vale tudo no exercício da docência? Honestidade, escrúpulos são valores
fundamentais, inclusive para a construção de um conhecimento válido e
validável. O autor chama de ética universal, o conjunto de princípios que devem
regular a profissão docente a fim de torná-la viável. Quando nos deparamos com
um autor com o qual discordamos, devemos ser justos em sua avaliação sem
invisibilizá-lo ou colocar palavras na sua boca que ele jamais pronunciara. E
para quem crê na irrelevância das formas em face ao conteúdo, Freire pondera. A
estética seria igualmente primordial. A estética da sala de aula, a estética da
própria aula, do falar, do agir. A estética da escola, das instituições. Tudo
isso passa mensagens não verbais que corroboram ou contradizem nossos discursos
verbalizados.
Falando em discursos não
verbais, precisamos lembrar do valor do exemplo. Nossa postura, atitudes,
gestos, olhares, tons de voz. Nossa vaidade ou arrogancia em pequenas condutas.
Nosso autoritarismo ao falar de democracia. Nossa indiferença para com nossos
estudantes. A corporificação das palavras pelo exemplo permite que sejamos
coerentes e multipliquemos nosso poder persuasivo.
As turmas de estudantes são
microcosmos da sociedade. Existe ali uma heterogeneidade, uma diversidade de
ser e estar no mundo. Combater as muitas formas de discriminação é imperativo.
Ao olvidar essas questões corremos sérios riscos de perder a atenção e
consideração de muitos estudantes, além de permitirmos o crescimento das
sementes do preconceito em cada um. Ensinar como qualquer atividade na vida,
envolve riscos, por isso precisamos sair da zona de conforto se quisermos obter
algum resultado relevante.
Ensinar exige práxis, a
reflexão sobre a própria prática. Os processos educativos são dinâmicos e
sempre inacabados. Devido a isso a contínua reflexão sobre nossas práticas
possibilita uma constante atualização de métodos e conteúdos, uma ampliação de
nossos horizontes educacionais.
Poder ser quem somos,
integra um dos direitos mais básicos. Poder conhecer a nós mesmos, poder
descobrir autonomamente quem somos. Permitir aos outros, serem quem são,
permitir que sejam diferentes de nós. Autonomia que difere de independência e
aí encontra-se o principal papel do professor, seu principal objetivo:
contribuir para autonomização dos sujeitos, sua emancipação.
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