Série: Redações
O Livro dos Espíritos
Autor do livro: Allan Kardec
Cap VI: Da vida espírita
Olá galerinha do bem e do mal, voando por aqui e por ali. Tiremos os pés do chão dessa vez e embarquemos nessa viagem astral...
Recordam-se do alvorecer de uma realidade
indescritivelmente fantástica? A transformação da crisálida, passando a ser
bela borboleta? Em caso negativo, convido-os a ler o texto: “A Crisálida”.
Abrir os olhos numa dimensão extrafísica pode ser uma experiência
aterrorizante, confusa ou reconfortante. Deparar-se com entidades estranhas,
disformes, sombrias. Alegrar-se, ao vislumbrar faces conhecidas, amigos e
mentores espirituais. São duas sortes distintas, consequências de nosso
proceder no mundo físico.
Abrir os
olhos, talvez, não seja o termo adequado, haja vista a inexistência de órgãos
sensoriais específicos no corpo perispiritual. Todo o ser ouve, vê, sente,
independente do ar ou luz. Nós próprios somos centelhas tão mais cintilantes
quanto maior for nossa depuração. O fluído cósmico serve de veículo para
transmissão do pensamento tal qual o ar o é dos sons. Sensações de fome, frio,
calor e sede podem permanecer em espíritos inferiores, ainda apegados à
matéria, ignorantes a respeito das questões espirituais e morais.
De modo
geral, nós sabíamos a que gênero de provas estaríamos submetidos durante a
temporada terrena. Isso por nós mesmos termos escolhido aquele gênero, com
vistas no progresso, na felicidade. Deus nos faculta essa escolha com a
finalidade de sermos mais e mais responsáveis por nosso caminhar, no entanto,
espíritos ainda muito jovens ou rebeldes são constrangidos a sofrer esta ou
aquela prova de acordo às suas capacidades ou infrações cometidas.
Levando em
conta que a maior parte da população terrestre seria composta de espíritos
inferiores, independente de nacionalidades, cores, religiões ou condições
socioeconômicas, depreende-se que a sorte dos terráqueos, após a morte, não
seja das melhores. Contudo, a questão é por demais complexa. Existem diversos
graus de inferioridade assim como diversos são os setores da vida humana:
família, amigos, trabalho, indivíduo, sociedade etc. Aqueles que souberam criar
verdadeiros laços fraternos, além de corrigir seus erros ou parte deles, gozam
de uma assistência especial, após o desencarne. Estes são encaminhados para
cidades-hospital, exemplificadas no filme “Nosso Lar”, para sua recuperação. Afinal,
apesar dos seus méritos, ainda estão distantes da perfeição. Já os espíritos
que viveram afogados no egoísmo encontram uma recepção pouco amistosa de outros
semelhantes a ele, experienciando terríveis sofrimentos psicomorais, até
arrependerem-se sinceramente e clamarem por socorro.
Adentremos... por detrás dessas cortinas brumosas onde os mortais não
alcançam, avistamos um lugar infinito, infinito em sua extensão, em suas cores,
beleza e mistérios. Uma diversidade que faz a exuberante Gaia terrestre parecer
uma deusa acanhada. Mas nem tudo é luz, nem tudo reluz. Zonas sombrias, densas,
pululam aqui e ali, separadas dos planos superiores por poderosas barreiras
vibratórias, energéticas. Os espíritos fulgurantes vão onde querem, ao passo
que os seres opacos rastejam em ambientes pesados condizentes com sua energia
massuda, atraídos pela gravidade de maneira análoga aos encarnados, ao
perambularem pela crosta.
De forma
simplista, poderíamos dividir o plano espiritual em quatro regiões, utilizando
o critério da densidade: regiões infernais, regiões umbralinas, regiões
intermediárias, regiões superiores. Importante pontuar a não existência de um
inferno em si. O caráter infernal relaciona-se às mentes infernais reunidas
naquele espaço, atraídas pelas zonas mais densas.
Numa
dimensão próxima do nosso plano tridimensional, entrevemos várias cidades
espirituais destinadas ao socorro dos recém-desencarnados, lembrando que o
qualificativo espiritual se refere a um tempo-espaço distinto do nosso cuja
matéria e energia se encontram em estados inapreensíveis aos nossos
instrumentos. É curioso imaginar um mundo espiritual com cidades, palácios,
monumentos, montanhas, planícies, vales, lagos, vegetações e criaturas
desconhecidas. Um mundo fervilhante, cheio de atividade, cheio de vida, muito
mais populoso que a Terra física. Mesmo nas zonas umbralinas, encontramos
cidades envoltas em pesadas neblinas, fortalezas, laboratórios, conflitos,
intrigas, maquinações e tantas outras coisas inimagináveis.
Nesse
mundo, as trevas são mais tenebrosas e as luzes, mais brilhantes. O
desligamento do corpo material nos permite ampliar as faculdades intelectuais;
permite a demonstração mais sincera e profunda dos sentimentos. Os laços de
amizade se fortalecem e a percepção das coisas torna-se mais precisa. Descanso
eterno? Longe disso, pois que a ociosidade, irmã do tédio, constituiria um martírio
sem fim. Além do mais, o espírito não experimenta fadigas como o corpo dos encarnados.
Trabalho? Com certeza! O trabalho continua, sob outro ponto de vista, erigido
sobre os pilares da fraternidade universal.
Vida de
borboleta é vida dinâmica. Podemos permanecer séculos nos planos espirituais,
entre uma encarnação e outra. Permaneceremos a eternidade lá, após chegarmos à
perfeição, uma vez que esta é nossa verdadeira pátria. Necessitamos de algo
para fazer, concordam? Nada de entoar cânticos gospel pela eternidade. Os tipos
de atividades são inúmeros, desafiadores, sempre fundados no espírito de
serviço ao próximo. As formas de lazer são igualmente abundantes, desde a
contemplação das infindáveis paisagens da natureza espiritual até o ingresso em
festas regadas a amor e leveza. O mundo dos espíritos dança em incontáveis
ritmos harmoniosos entre si, vibra! Ele nos convida a alçar voo por esses
campos Elíseos de tantas flores, odores e sabores. Saiamos do casulo ainda
encarnados e desfrutemos das maravilhas de Ser Espiritual. Morramos antes da
morte para vivermos em paz eternamente!