quinta-feira, 23 de abril de 2015

Sessão Nostalgia Desmemorada 7



19 de dezembro de 2011

Juvany Viana
Juvany
Formação: Relações Humanas

     Alfabetização, ensino fundamental, primeiro, segundo grau. Graduação, pós, mestrado, doutorado... Quantos títulos são indispensáveis a formação humana? Quantos doutores são necessários para ensinar uma pessoa a ser humana? Doutor psicólogo (estudioso da mente), doutor sociólogo (estudioso da sociedade)  ou talvez o doutor médico, especializado no órgão cardíaco (entendedor do sentimento humano?). Hipócritas! Sepulcros caiados, diria o Mestre nazareno. Ricamente ornamentados  por fora com suas intelectualidades e vazios ou podres por dentro.
     O mero acúmulo de conteúdo livresco, por maior que seja, parece, sempre precário quando objetiva a humanização das pessoas: a consciência e consequente valorização de si e do outro. A professora leiga, Juvany Viana ilustra essa ideia magistralmente. Como e onde obter as habilidades e disposições internas que permitem-na um êxito tão grandioso apesar de todas as dificuldades ameaçando seu trabalho? Não nas instituições oficiais do saber: escolas e universidades, podadoras da criatividade, iniciativa e força de vontade. Instituições cuja organização é elaborada para o deleite de seus dirigentes em detrimento da maioria de seus integrantes. Organização que cria nos entes organizados um sentimento de repulsa pela forma estabelecida, regulamentando uma lógica insensata.
     Soa-nos óbvio o ditado: " só se aprende a escrever, escrevendo". Contudo, por que seria menos evidente que só se aprende a ser gente, promovendo relações entre gente? Por que enxergar como única solução as leituras enclausuradas nos quartos, gabinetes e escritórios? Por que asfixiar dias inteiros em salas de aulas?
     As escolas pregam união e nos separam rigidamente em séries, notas, turnos, disciplinas, entre outras com pouca ou nenhuma chance de re-união (as leis deveriam servir aos homens e não os homens às leis). As escolas pregam cidadania, mas seus alunos são sistematicamente excluídos dos processos decisórios. As escolas pregam inclusão e expulsam todos os "alunos-problema" ou são indiferentes a eles com sua política de não reprovação. As escolas vivem uma mentira conveniente, fingindo um papel que não exercem e exigindo uma convicção que não têm. O exemplo é o fundamento de uma cobrança consistente sem o qual restam apenas hipocrisias, no mínimo, contestáveis.
     Generalizações a parte, encontramos pessoas e até instituições sinceras consigo mesmas e convictas da viabilidade de seus sonhos. Juvany nos dá uma receita aparentemente subjetiva, porém com efeitos muito mais palpáveis que o rigor sintático dos nossos regimentos poderiam produzir: o amor.
     O amor a faz levantar quatro horas da manhã para garantir a preparação da merenda. O amor permite satisfação em ambientes insatisfatórios: aulas embaixo de um coqueiro com assentos feitos de tábuas e latas. O mesmo amor impele a gastar o pouco dinheiro ganho na compra dos materiais escolares para os estudantes. O amor a impede de esmorecer diante das dificuldades em Matemática e da ausência de uma pessoa capaz de assisti-la. Um amor lento nas recompensas materiais ( vinte anos para construção do sonhado prédio), mas pródigo em demonstrações de carinho por aqueles que são os principais beneficiados: os estudantes.
     Juvany é convicta da importância do seu trabalho, coerente nas suas ações quando confrontadas com seu discurso, transmitindo uma sinceridade contagiante. Ela vive uma verdade, manifestada na construção conjunta de uma realidade que ela acredita ser possível criar.
     O ser humano é um observador por excelência. Não passivo, mas ativo, concentrado, reflexivo, reinterpretativo, reformulador da realidade a partir dos variados pontos de vista, capazes de gerar novas vistas em diferentes pontos. A vida é a escola do Ser integral e seus grandes doutores são aqueles que simplesmente são (a simplicidade é o máximo da sofisticação). São amorosos, criativos, comunicativos, divertidos, desapegados...
     Observar é uma das formas de aprender. Tentar imitar é um modo de resignificar as práticas de outrem, adequando a sua realidade. A capacidade de amar sempre mais é a prova do aprendizado. O amor recebido transforma-se no melhor dos diplomas, porque ser professor é amar observar o aprender contínuo do outro. Aprender a amar é aprender a Ser e quem aprende a Ser esta sempre disposto a aprender com tudo e com todos.
     Portanto, aprendamos com Juvany e com milhares de outros doutores anônimos, necessitados apenas, de uma observação atenta de nossa parte.Quantos holofotes em torno de estrelas apagadas, enquanto sóis de primeira grandeza brilham despercebidos!

Até o próximo post!

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