https://www.udemy.com/animotmintro/learn/v4/overview
Um espaço pra quem curte poesia na prosa, atmosfera leve, meditando a vida. Vem meditar com a gente!
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
Aprendendo a Ensinar
27/05/2017
Série: Redações
Pedagogia da Autonomia
Autor do livro: Paulo Freire
Cap. I: Prática docente : primeira reflexão
Aprender é um processo
contínuo, ininterrupto, diversificado. Aprendemos desde o nascimento até o
momento da morte, o último respirar. A prática do ensino não seria diferente.
Ensinar integra o processo de aprendizagem, seja ele formal ou informal.
Aprendemos enquanto ensinamos e aprendemos a ensinar enquanto somos ensinados.
Paulo Freire identifica esse processo de ensino-aprendizagem onde educadores e
educandos constituem um continuum, elementos intrinsecamente
interligados. Uma relação muito mais horizontal e dialética.
O livro inteiro versa sobre
o que ele denomina de exigências do ensinar. A cada capítulo nos são
apresentadas uma lista daquilo considerado fundamental à prática educativa.
Faremos aqui análises sumárias acerca de cada exigência com vistas à estimular
a leitura da obra completa.
Rigorosidade metódica. Freire
inicia frisando a importância do rigor metodológico, próprio do procedimento
científico sem o qual a prática docente careceria de credibilidade e seriedade.
O domínio dos conteúdos, a preparação das aulas, tudo deve girar em torno da
qualidade do ensino. Contudo Freire critica o denominado por ele de ensino
bancário, focado no acúmulo excessivo de conteúdos desconectados da realidade
sócio-politico-econômica do estudante. Os conteúdos deveriam emergir da
realidade concreta, não como um laisser-faisser, mas sob orientação metódica do
educador que valorizaria o aprendizado originado nas vivências cotidianas, na
empiria, no senso comum.
Pesquisa. Basicamente o
autor invalida a dicotomia existente entre professor e pesquisador. Lecionar e
pesquisar seriam duas faces da mesma moeda. O processos necessários ao ensinar
seriam impensáveis sem a pesquisa científica. Mais que isso, a própria pesquisa
seria um trabalho vazio sem o ensino, associado a divulgação, propagação dos
objetos pesquisados.
Complementando a ideia de
horizontalidade e conexão dos conteúdos à realidade dos estudantes, faz-se
imprescindível o respeito aos saberes adquiridos pelos estudantes no seu
percurso de vida. Diferente de educadores mais antigos, Freire não acredita no
aluno(ser sem luz própria) enquanto uma folha em branco, na qual o professor
iluminado iria imprimir seus conhecimentos, transmiti-los unilateralmente. O
ponto de partida do professor seria justamente a bagagem trazida pelo
estudante, tomando cuidado com abordagens arrogantes que inferiorizam os
aprendizes. Afinal, aprendizes somos todos, sempre.
Pensar criticamente
constitui um desafio. Ensinar a pensar criticamente, um desafio muito maior.
Para Paulo Freire a criticidade representaria uma superação do paradigma
originário e não uma ruptura com esse paradigma, nomeado por ele de curiosadade
ingênua. Essa ingenuidade seria superada pela curiosidade epistemológica, de
caráter cientifico a partir de reflexões e confrontos entre os conteúdos
apresentados e a realidade concreta. A curiosidade, em essência, permaneceria a
mesma, todavia seria criticizada, evidenciando o caráter sócio-político da
educação. A educação jamais seria neutra, seja isso declarado ou não.
Quem poderia pensar que
vale tudo no exercício da docência? Honestidade, escrúpulos são valores
fundamentais, inclusive para a construção de um conhecimento válido e
validável. O autor chama de ética universal, o conjunto de princípios que devem
regular a profissão docente a fim de torná-la viável. Quando nos deparamos com
um autor com o qual discordamos, devemos ser justos em sua avaliação sem
invisibilizá-lo ou colocar palavras na sua boca que ele jamais pronunciara. E
para quem crê na irrelevância das formas em face ao conteúdo, Freire pondera. A
estética seria igualmente primordial. A estética da sala de aula, a estética da
própria aula, do falar, do agir. A estética da escola, das instituições. Tudo
isso passa mensagens não verbais que corroboram ou contradizem nossos discursos
verbalizados.
Falando em discursos não
verbais, precisamos lembrar do valor do exemplo. Nossa postura, atitudes,
gestos, olhares, tons de voz. Nossa vaidade ou arrogancia em pequenas condutas.
Nosso autoritarismo ao falar de democracia. Nossa indiferença para com nossos
estudantes. A corporificação das palavras pelo exemplo permite que sejamos
coerentes e multipliquemos nosso poder persuasivo.
As turmas de estudantes são
microcosmos da sociedade. Existe ali uma heterogeneidade, uma diversidade de
ser e estar no mundo. Combater as muitas formas de discriminação é imperativo.
Ao olvidar essas questões corremos sérios riscos de perder a atenção e
consideração de muitos estudantes, além de permitirmos o crescimento das
sementes do preconceito em cada um. Ensinar como qualquer atividade na vida,
envolve riscos, por isso precisamos sair da zona de conforto se quisermos obter
algum resultado relevante.
Ensinar exige práxis, a
reflexão sobre a própria prática. Os processos educativos são dinâmicos e
sempre inacabados. Devido a isso a contínua reflexão sobre nossas práticas
possibilita uma constante atualização de métodos e conteúdos, uma ampliação de
nossos horizontes educacionais.
Poder ser quem somos,
integra um dos direitos mais básicos. Poder conhecer a nós mesmos, poder
descobrir autonomamente quem somos. Permitir aos outros, serem quem são,
permitir que sejam diferentes de nós. Autonomia que difere de independência e
aí encontra-se o principal papel do professor, seu principal objetivo:
contribuir para autonomização dos sujeitos, sua emancipação.
sexta-feira, 6 de outubro de 2017
Receita Animada
17/09/2017
Série:
Contos: Ânimo-Teórico-Metodológico
Autor:
Mg Amaral
Açúcar, ovos, fermento, farinha,
chocolate, morango, creme de leite, leite condensado, ameixa, limão, biscoitos,
maçã, etc, etc, etc. Quantos bolos possíveis? Quantos bolos deliciosos? Quantos
bolos desastrosos? Tantos péssimos cozinheiros tão bem estudados! Tantos outros
bons, desconhecendo os Universos universitários. A Vontade da Força. O
ingrediente secreto, Amor? Mexe pra lá, mexe pra cá, por 10, 15, 20 minutos
contados, recontados. Mas os ingredientes foram animados, estão vivos. Aí,
complicou!
Cada um pretende a prevalência do seu
sabor, do seu traço. Quero de morango. Não, de chocolate! Limão, limão, limão! Os ingredientes se empurravam uns aos outros,
nada de obedecer à fila, nada de levantar as mãos. Era bolo ou torta, quente ou
gelado. O tempo era curto. A cozinha, uma só. Necessário escolher. A escolha da
frustração, da realização. A Chef de cozinha precisava pôr ordem naquilo, impor
ou expor? Ela já ouvira falar de muitas ordens, contudo conhecia uma de muito
tempo, de desde sempre que, bem ou mal, parecia funcionar. Grita, bate na mesa,
e um pouco do chocolate acerta suas bochechas. O limão quase respinga nos seus
olhos, o choro seria inevitável. Por que esses ingredientes tornaram-se
animados? Ah, o passado idílico, todos tão quietinhos, esperando ser postos, em
seus devidos lugares.
A receita boa é essa! Eu estudei, eu sei!
Minha experiência autoriza enfiar isso goela abaixo de todos vocês! Onde já se
viu ingrediente animado? Voltem a seus lugares! Não era animação, era puro
terrorismo! O tempo passava, a teoria do caos vivida na prática. O instituto
não sei das quantas encomendara. Metas são metas, precisava cumprir. O emprego,
o salário, todos os anos naquele Universo, agora, tão paralelo. Eles teimavam
em se animar, verdadeiros looney
ingredientes, lunáticos. Por um momento a Chef quase achou graça. Havia graça
para achar? O que vocês estão fazendo aqui? Qual o seu objetivo? Quem vocês
pensam que são, afinal? Silêncio... total! Tudo se aquietou, eles não sabiam. De
repente, ela própria, enredada na rede silenciosa, percebeu que também não.
Metade do tempo já virou pretérito imperfeito. A cozinha, uma verdadeira arte
contemporânea com seus respingos de tudo, em todos os cantos.
Em breve, chegaria um crítico gastronômico.
Homem importante, de fora, de longe. A palavra, em forma de lei, como aquelas
leis do mais alto dos céus. Diante dele, a Chef não passava de mero mortal.
Mesmo assim, as réguas daquele sujeito pareciam tão arcaicas. O mundo não seria
muito mais que altura e largura? Ela ainda não sabia as respostas das próprias
perguntas, só sabia os silêncios intermináveis. Os ânimos arrefeceram por um
tempo, mas permaneceram latentes, patentes. A curiosidade aguçada decide
encontrar as respostas desses silêncios que a todos permeavam. Olhares meio
desconfiados foram trocados. As mãos timidamente estendidas. Aperto. Iriam
descobrir juntos e o crítico que tentasse engolir aquele ânimo renovado!
Ânimo Teórico-metodológico
Anima Animus
Autor:
MG Amaral
Série:
Como fazer?
Ânimo Teórico-metodológico
Você já deve ter passado, ao menos, alguns dias na
casa de algum amigo ou parente e deve ter notado como eles fazem as tarefas
domésticas, de maneira diferente da sua casa. Cada família ou indivíduo
organiza as tarefas de maneira distinta, graças aos diversos modos de ser e
estar no mundo. Cada um possui necessidades e prioridades diferentes, visões de
mundo variadas e, por isso, as demandas e o modo de alcançá-las são diversos.
Ainda assim, uns podem ser mais eficientes que outros, a depender de seus
objetivos. Métodos: a maneira de lavar os pratos, por exemplo, deixando
acumular para lavá-los no final do dia, ou lavando a cada prato sujo; da mesma
forma, podemos pensar no modo de varrer a casa, arrumar a cama, etc. A Ciência
também possui seus métodos? Cada disciplina, um método diferente? O próprio ato
de estudar estaria sujeito a metodologias? Hora de pesquisar.
Todas as ciências caracterizam-se pela
utilização de métodos científicos; em contrapartida, nem todos os ramos de
estudo que empregam estes métodos são ciências. Dessas afirmações podemos
concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada exclusiva da
ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos.
Assim, o método
é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e
economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –
traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do
cientista. [Lakatos, Eva Maria; Marconi, Marina de Andrade; Fundamentos de
metodologia científica – pg 65 - 7 ed. –
São Paulo: Atlas, 2010]
Trabalho científico é tomado aqui em sentido
abrangente, envolvendo múltiplas perspectivas. De modo geral, refere-se ao
próprio processo de produção do conhecimento científico, atividade
epistemológica de apreensão do real; ao mesmo tempo, refere-se igualmente ao
conjunto de processos de estudo, de pesquisa e de reflexão que caracterizam a
vida intelectual do estudante; refere-se ainda ao relatório técnico que
registra dissertativamente os resultados de pesquisas científicas, caso em que
significa a própria monografa científica. [Severino,
Antonio Joaquim, 1941; Metodologia do trabalho científico – pg 17 -24 ed. rev.
e atual. – São Paulo: Cortez, 2016]
A ciência utiliza-se de método que lhe é
próprio, o método científico, elemento fundamental do processo de conhecimento
realizado pela ciência para diferenciá-la não só do senso comum, mas também das
demais modalidades de expressão da subjetividade humana, como a filosofia, a
arte, a religião. Trata-se de um conjunto de procedimentos lógicos e de
técnicas operacionais que permitem o acesso às relações causais constantes
entre os fenômenos (...)[Severino, Antonio Joaquim, 1941; Metodologia do
trabalho científico – pg 108 -24 ed. rev. e atual. – São Paulo: Cortez, 2016]
Por quê? Para quê? Como? Por que estou
produzindo esses textos? Por que estou criando essas vídeoaulas? Por que a
insistência nesses tais mapas mentais? Por que tantas imagens? Por que desses
textos coloridos? Quais seriam minhas intenções e finalidades? E como posso
alcançar esses objetivos? Dinheiro? Também. Afinal, boas intenções não pagam
boletos. Aprendizagem! Facilitar as aprendizagens dos meus estudantes é uma das
principais metas. Possibilitar melhorias qualitativas, na vida dos aprendizes
que interagem com minhas aulas. Ampliar horizontes, intensificar a autonomia
dos sujeitos, alargar os raios de ação e intervenção na realidade, despertar ou
fortalecer o ânimo pela vida, aprofundar as capacidades crítico-reflexivas. Mas
por que eu investiria tempo e esforço nesses objetivos tão desafiadores? Visão
de mundo, perspectiva. Meu olhar sobre a vida admite a interconexão de todos os
seres vivos, destacadamente de nós seres humanos. Todos estaríamos emaranhados,
numa rede de profundas conexões visíveis e invisíveis. A partir daí, prejudicar
nossos semelhantes seria igual a prejudicar a nós mesmos; ajudá-los a
desenvolverem-se seria ajudar, igualmente, a nós mesmos. Acredito que todos, em
alguma medida, desejam viver melhor, desejam viver em um lugar melhor, ainda
que o significado desse melhor possa variar, consideravelmente, de um para o
outro. Sendo assim, meus esforços voltam-se, na medida de minhas limitações e
potencialidades, na direção da construção de um mundo capaz de abrigar e
manifestar nossos melhores sonhos!
O trabalho pode
ser fonte de desgostos, exploração, exaustão e desânimo, no entanto, também
pode ser fonte de alegrias, satisfação e realizações. Isso depende, largamente,
das intenções, dos objetivos, dos modos de organização, das interações
estabelecidas, da remuneração, da valoração individual e social. Tenho o
privilégio de trabalhar com algo valorizado por mim, de fazer o que gosto. Infelizmente,
muitos não vivem assim. Porém, caso meu trabalho possa ajudar alguém nesse
sentido, com certeza, terá sido de grande valia. Levar um pouco de cor à vida
das pessoas. Talvez, você tenha notado
algo peculiar nesses textos. As cores! Inspirado nos
ensinamentos do neurocientista Tony Buzan, criador dos esquemas de pensamento
denominados de Mapas Mentais, resolvi colorir os textos. Um ato simples, carregado
de simbologias e implicações. Por que o mundo adulto deve ser tão cinza, tão
monocromático? Por que seriedade e qualidade estão tão atreladas à
sisudez, à rigidez? Por que a rigorosidade deve acompanhar a severidade,
beirando a hostilidade? Por que a ausência do humor, do sentimento, da poesia,
na Ciência? Quem decretou a descoloração do mundo? Quem resfriou a Ciência tal
qual um cadáver pálido? Não vemos na Natureza da Terra e dos espaços infinitos uma exuberância infindável de formas e cores? Não é esta Natureza
exuberante, poética e misteriosa, o objeto vivo de nossos estudos? Por que
restringir as cores aos usos da infância? Por que imaginá-las como uma ameaça à
masculinidade de certos homens ou como a infantilização dos adultos, a perda da
seriedade? Buzan, de maneira muito simples, nos fala do prazer estético, dos
benefícios à memória, das conexões com nossa afetividade, proporcionadas pelo
mero acréscimo de cores aos nossos estudos. Com tantos recursos gráficos à disposição, ficamos presos a padrões inflexíveis:
Use CORES durante todo o processo. Por quê? Porque as cores são tão excitantes para o cérebro quanto as
imagens. O uso
da cor acrescenta vibração e vida ao seu Mapa Mental, fornece uma energia
extraordinária ao Pensamento Criativo, e é
divertido. [Buzan, Tony, Mapas Mentais e sua
Elaboração: um sistema definitivo de pensamento que transformará a sua vida, pg
46, São Paulo, Ed. Cultrix, 2005]
Os Mapas
Mentais são esquemas de pensamento, métodos de sistematização e síntese das
ideias. A partir de palavras-chaves, cores, linhas curvas, símbolos e imagens,
o Mapa permite-nos condensar as ideias, num formato esteticamente atraente,
análogo ao neurônio, evidenciando nossa personalidade e subjetividade, sem
perder de vista o caráter técnico e objetivo. Meus textos são sempre
acompanhados de Mapas Mentais para facilitar o entendimento e sintetização.
Contudo, mais do que analisar meus mapas, minha proposta fundamental é a produção
de mapas por parte dos estudantes, tendo, nos meus mapas, uma referência. A
produção dos mapas possui um caráter avaliativo e autoavaliativo, no sentido de
permitir ao professor avaliar o estágio de apropriação/construção do
conhecimento pelos seus estudantes, assim como dos modos de organização objetiva/subjetiva
desses conhecimentos. Permite também uma avaliação realizada pelo próprio
aprendiz a fim de guiar seus novos estudos, além de valioso registro de
informações integradas. Segundo Buzan, nosso cérebro trabalha a partir da
imaginação e associações. Então, podemos ajudá-lo a trabalhar melhor com esse
esquema:
Todos os Mapas Mentais têm algumas coisas em comum: Todos usam cores,
todos têm uma estrutura natural que parte do centro; todos utilizam linhas,
símbolos, palavras e imagens de acordo com um conjunto de regras simples,
básicas, naturais e familiares ao cérebro. Com um Mapa Mental, uma longa lista
de informações áridas pode se transformar num diagrama colorido, fácil de
lembrar e bem organizado que opera em harmonia com o funcionamento natural do
cérebro. [Buzan,
Tony, Mapas Mentais e sua Elaboração: um sistema definitivo de pensamento que
transformará a sua vida, pg 25, São Paulo, Ed. Cultrix, 2005]
Leia a palavra abaixo, impressa em
letras maiúsculas. Em seguida, feche os olhos e mantenha-os fechados, durante uns 30 segundos, pensando na palavra.
FRUTA.
Ao ler a palavra e fechar os olhos,
imprimiu-se em sua mente a palavra FRUTA, como a impressão feita por um
computador?
É claro que não! O que o seu cérebro
provavelmente gerou foi a imagem da sua fruta preferida, de uma bandeja com
frutas ou de uma quitanda de frutas;
relacionou os sabores às frutas respectivas e, ainda “sentiu” seus
aromas. Isso acontece porque nosso cérebro trabalha com imagens sensoriais, com
conexões adequadas e associações que delas se irradiam. O cérebro usa palavras
para disparar essas imagens e associações.
[Buzan, Tony, Mapas Mentais e sua Elaboração: um sistema
definitivo de pensamento que transformará a sua vida, pg 42, São Paulo, Ed.
Cultrix, 2005]
O seu cérebro irradia pensamentos em todas as direções.
Elas produzem figuras tridimensionais
com inúmeras associações que são especialmente pessoais para cada um de nós.
O que você constatou com o “exercício
da fruta” é que seu cérebro cria Mapas Mentais naturalmente! Ao fazer isso,
você conseguiu algo ainda maior do que imagina e abriu caminho para um
aperfeiçoamento notável do seu poder de pensar. Você descobriu como seu cérebro
realmente trabalha. [Buzan, Tony, Mapas Mentais e sua Elaboração: um sistema
definitivo de pensamento que transformará a sua vida, pg 43, São Paulo, Ed.
Cultrix, 2005]
Falar em avaliações, exames e provas dá
calafrios e dores de cabeça a muita gente. Mas por que isso ocorre? As
avaliações deveriam ser assustadoras assim? O problema estaria no caráter
propedêutico de nossa educação, ou seja, o caráter seletivo. Uma educação onde
cada nível de ensino se preocupa muito mais em selecionar os que estariam aptos
aos níveis superiores do que em fomentar, de fato, o aprendizado de todos.
Quais os objetivos da escola? Passar nos vestibulares, passar nos concursos,
ingressar no ensino superior, favorecer o acesso a empregos bem remunerados?
Não seria ensinar sobre a vida, sobre viver? Não seria favorecer o aprendizado
o máximo possível? Não seria despertar potencialidades latentes, aflorar a
criatividade, o pensamento crítico, a curiosidade investigativa? Nossos métodos
andam de mãos dadas com nossos objetivos, muitas vezes, sem que percebamos. As
notas deveriam ser o centro de nossas atenções ou nosso aprendizado? As notas
medem com segurança nossos aprendizados? Existem formas de avaliar para além
das provas tradicionais? Lembremo-nos dos mapas: as avaliações seriam como
mapas de nosso aprendizado. Os mapas servem para nos auxiliar sobre as decisões,
envolvendo nossos caminhos. Nesse caso, os caminhos seriam a própria
aprendizagem. De quantas maneiras podemos nos expressar? Fala, escrita, prosa,
verso, música, dança, teatro, desenho, jogos, áudios, vídeos, imagens, jornais,
revistas, palestras, assembleias etc. Todas essas modalidades de expressão
podem constituir formas válidas de compartilhar conhecimentos e propiciar
avaliações e autoavaliações. Reflita e escolha as melhores maneiras de integrar
seus conhecimentos e compartilhar com o mundo. Quanto mais formas, melhor e
mais precisa será a avaliação. O conhecimento não deve ficar preso nas paredes
do seu quarto, nem entre os muros das escolas. Identificar erros em nossos
projetos, após a avaliação, não deve ser motivo de tristeza ou estagnação. A
identificação dos erros deve servir para podermos refazer algo maior e melhor. Não
tenhamos medo de errar. Precisamos nos livrar desse absurdo internalizado desde
criança. Os erros são os degraus do aprendizado. Perguntar sempre que não
compreender, seguir adiante, após as quedas inevitáveis. Não foi assim que
aprendemos a andar?
Desse mundo do ensino primário – algo
informe e desordenado, compreendendo presentemente escolas estaduais, de
matrículas, escolas municipais, com instalações geralmente inadequadas e com
professores despreparados, e escolas particulares livres, todas ou de simples
alfabetização ou de caráter, como vimos propedêutico e seletivo – passamos ao
mundo do ensino médio.
A transição tem
algo de um salto. Não é apenas um novo nível, mas um novo reino, ou, então, a
entrada definitiva no reino da educação seletiva. Como a marcar a violenta
transformação, há que registrar o ritualismo que caracteriza a nova escola. A
licença de organização, de programas, de métodos e formalismo mais estrito e
por verdadeira inflexibilidade de organização. Distribui-se por cinco ramos
esse ensino: o secundário, de caráter nitidamente intelectualista; o
técnico-industrial, o agrícola, o comercial e o normal ou pedagógico.
Teoricamente, o secundário seria
propedêutico ao ensino superior, e os demais, de caráter profissional,
destinados ao preparo dos quadros de nível médio de técnicos para a indústria,
o comércio, a agricultura e o magistério primário. Na realidade, porém, todo
esse ensino médio se vem fazendo propedêutico ao ensino superior,
contentando-se com seu preparo para se iniciar no trabalho ativo apenas aquele
grupo de alunos que, não conseguindo adaptar-se à rigidez dos seus padrões,
acaba por abandonar o curso ou dele ser excluído pelas reprovações. [Texeira,
Anísio; A escola brasileira e a estabilidade social; Revista Brasileira de
Estudos Pedagógicos, vol. XXVIII, nº 67, 1957, pp. 9-10]
Quais conteúdos ensina um professor de
História? História, vocês diriam, aquelas coisas “do tempo do ronca’, “do
rococó”, “de onde Judas perdeu as botas”, “das poeiras dos museus”. Em parte,
vocês estariam corretos, apesar da chamada História do Tempo Presente e outras
questões teórico-metodológicas da História que não cabem nesse texto. O ponto-chave
seria a restrição dos conteúdos aos conteúdos disciplinares dessa matéria. Como
pesquisar, como sintetizar, como produzir um mapa mental, como ler, como
interpretar, como cooperar, como trabalhar em equipe? Esses “como(s)” podem ser
considerados conteúdos? O educador Antoni Zabala nos chama atenção para a
existência dos conteúdos, nomeados por ele de procedimentais e atitudinais,
muitas vezes, ignorados pelos professores. Também nos adverte sobre o chamado
currículo oculto que envolve, entre outras coisas, o modo como a escola está
organizada e os tipos de interação social hegemônicos dentro dela. Muitas vezes,
o currículo oculto contradiz o projeto político-pedagógico propagado pela
escola.
Vimos, até aqui, uma noção de educação,
fundada na ideia de processo, sequência, encadeamento. Podemos perceber esses
processos em nossa rotina? Seriam os setores da nossa vida bem delimitados,
compartimentados (família, amigos, trabalho etc) ou apenas os dividimos assim
para facilitar nossa compreensão? Essa compreensão poderia ampliar-se a partir
da reflexão de nossas práticas diárias? A práxis, reflexão sobre as próprias
práticas, com o objetivo de transformar/melhorar a própria prática, seria
cabível no contexto educacional? Nada mais pertinente a essa concepção educativa
processual que a utilização de sequências didáticas para elaboração das aulas,
atividades e organização dos conteúdos. No dizer da educadora Myriam
Nemirovsky:
Assumir que as atividades em classe podem
ser estruturadas em sequências implica organizar um processo didático por meio
do qual desencadeamos uma série de ações sucessivas e com diferentes graus de
complexidade, que têm um propósito explícito e claro e que ocorrem ao longo de
várias semanas ou meses. Essa forma de organizar as aulas se difere do modo
educativo transmissivo, que vigorou durante muito tempo e lamentavelmente
continua vivo em muitos lugares. Nele, o professor apenas repassava
conhecimentos para as turmas e não havia o princípio de processo para o ensino
e para a aprendizagem. As atividades estavam organizadas com base em uma
concepção aditiva, em que se propunha uma atividade após a outra para treinar
os alunos. A função das crianças era apenas adquirir o conhecimento passado
pelo mestre. [Entrevista com Myriam Nemirovsky; Revista Nova Escola; 2011]
Agora daremos a palavra ao professor
Antoni Zabala:
[Sequência didática] Na unidade 4 vemos
que em praticamente todas as atividades que formam a sequência aparecem
conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Neste caso, os alunos
controlam o ritmo da sequência, atuando constantemente e utilizando uma série
de técnicas e habilidades: diálogo, debate, trabalho em pequenos grupo,
pesquisa bibliográfica, trabalho de campo, elaboração de questionários,
entrevistas, etc. Ao mesmo tempo, encontram-se diante de uma série de conflitos
pessoais e grupais de sociabilidade que é preciso resolver, o que implica que
devam ir aprendendo a “ser” de uma determinada maneira: tolerantes,
cooperativos, respeitosos, rigorosos, etc. Nesta sequência vemos que, como
outras, aparecem conteúdos das três categorias. Mas neste caso existe um
trabalho muito explícito no dos conteúdos
procedimentais e atitudinais (grifos nossos). Do mesmo modo que na unidade
anterior, o fato de que apareçam estes conteúdos não quer dizer que exista uma
consciência educativa. Enquanto isto não se traduza a maneira de trabalhar
estes conteúdos por parte dos professores e não sejam objeto de avaliação, não
poderemos considera-los conteúdos explícitos de aprendizagem. No entanto, se
nos detemos na fase de avaliação, pode se ver que não se faz apenas uma
avaliação da prova realizada, mas que a classificação é o resultado das
observações feitas durante toda a unidade. Neste caso, pode se afirmar que se
pretende que os alunos “saibam” os termos tratados, “saibam fazer”
questionários, investigações, entrevistas, etc., e que cada vez “sejam” mais
tolerantes, cooperativos, organizados, etc. [Zabala, Antoni; A Prática
Educativa: Como ensinar; ed. Artmed, 1998]
Devem ter percebido, igualmente, a
utilização frequente da primeira pessoa em meus textos. A primeira pessoa não é
recomendada em textos classificados como acadêmicos, todavia, percebi o
potencial sócioafetivo dessa forma verbal e resolvi, singelamente, desafiar o establishment. Após ler vários textos de
pedagogia e de história da educação, imaginei a possibilidade de aplicar esses
conhecimentos didático-pedagógicos à estrutura do próprio texto. Conhecimentos
muitas vezes pensados para a dinâmica das salas de aula poderiam ser adaptados
à produção textual? Aproximação do estudante a partir de questões cotidianas;
consideração pelos conhecimentos prévios do estudante; articulação entre cotidiano
e conhecimento acadêmico; proposição de situações-problema significativas para
o aprendiz; estímulo mental a partir de desafios, provocações e perguntas;
estímulo à pesquisa; crença nas capacidades intelectuais do estudante, evitando
respostas prontas e acabadas. O texto se pretende mais leve, mais colorido,
mais desafiador ao mesmo tempo. Muitos estudiosos enfatizam a importância da
afetividade no aprendizado. No âmbito textual, o que seria uma abordagem com
potencial mais afetivo do que a utilização da primeira pessoa? Machado de Assis
foi uma das minhas inspirações com seus diálogos diretos e desafiadores do
narrador para com seus leitores. Meu “Eu” não irá sumir diante de
impessoalidades frias e meus argumentos não enfraquecerão por explicitar minha personalidade
e subjetividade, pelo contrário, serão elementos úteis a analises mais
profundas de minhas obras, um espelho da minha tentativa de honestidade
intelectual, de meu lugar de fala, de minha visão de mundo. Convido a todos a
mergulhar nessa visão de mundo para, a partir dela, construírem suas próprias
visões. Permitam-me ser um dos tijolos através dos quais edificarão seus
sonhos.
Vibrando Métodos
12/08/2017
Série: Animo-Teórico-Metodológico: Poesia
Autor: MG Amaral
Olá galerinha ondulatória ^^~~~__^^^^^~^^^~~~~~
Vibram os ventos, as
ondas, as cores do arco-íris
Vibram as doces
melodias
Reverberam os textos
dos entusiastas
As prosas, os versos,
narrativas, discursos, dissertações
Ressoam as vidas de
mentes brilhantes
Ecoam o fulgor de
incansáveis inquietações
Curiosos, detetives, investigadores
Artífices de conceitos, teorias, a ação de definir, generalizar
Lacunas, hipóteses, o poder de imaginar
Realidades escapando de seus quadros
Pinturas transbordando nossas finitudes
Laços indutivos, dedutivos, comparativos
Laços históricos, etnográficos, estruturalistas
Laços dialéticos, contraditórios laços
Clínicos, tipificadores idealistas
Parteiros de ideias, maternidade socrática
Ideias vibram, ecoam, reverberam
Não cabem em laços, quadros ou telas
Vibremos nós, junto a elas
De Mapa em Mapa, de roupa em roupa, sem camisas de força
A procura, nossa meta
O(s) “Como(s)”, nosso eterno processo
Deixemos flores na estrada
Deixemos cores no caminho
domingo, 10 de setembro de 2017
Fronteiras Movediças: O Público e o Privado na Educação
30/08/2017
Série: Avaliação de História da Educação
Autor: Mg Amaral
Olá galerinha nem lá e nem cá...
A obra clássica de Sérgio
Buarque de Holanda Raízes do Brasil já apontava para o intrincado emaranhado
existente entre os domínios público e privado nesse país, algo complicado de
definir-se, tanto na teoria quanto na prática. Em outro clássico, A Formação do
Brasil Contemporâneo, Caio Prado Júnior enfatizava a construção de uma economia
voltada para o mercado externo, nomeadamente europeu. A educação brasileira
pareceu ter seguido essas diretrizes, essas condicionantes, ao longo dos 500
anos de história da conquista e incorporação do território, primeiro, à Coroa portuguesa
e depois, ao Estado brasileiro.
As viagens ultramarinas dos
séculos XV e XVI e suas conquistas decorrentes foram empreendimentos
dispendiosos para a Coroa lusitana. Desse modo, os recursos da iniciativa
privada tiveram um papel fundamental, na efetivação dessas viagens, atraídos
pelas possibilidades lucrativas das “novas terras”. Uma perspectiva de saque,
de exploração e não de enraizamento, necessariamente. Nos primeiros séculos de
conquista, a educação, marcada pelas atividades jesuíticas, fundamentou-se numa
catequização superficial dos nativos, além de uma estrutura esparsa e precária
para a educação básica da elite residente, na terra do Cruzeiro. Aqueles poucos
que almejavam uma educação superior voltavam-se para a metrópole. Os jesuítas
agiram como um poder paralelo: ao mesmo tempo em que funcionavam como agentes
do Estado português, provocavam conflitos de interesses entre o clero, a Coroa
e os proprietários de terras. Isso sem falar dos indígenas e negros
escravizados, cujas vozes essa tríade tentava silenciar a todo custo.
No séc. XIX, a criação do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro denotava a intenção de tecer
narrativas nacionalistas, capazes de unificar o jovem país, em torno de um
projeto imperial de nação. O Estado brasileiro, politicamente liberto das
amarras portuguesas, engatinhava, no sentido de dotar-se de uma infraestrutura
educacional autônoma, esbarrando, contudo, em sérios problemas econômicos,
aliados a uma mentalidade referenciada na cultura europeia, destacadamente a
francesa. A dependência econômica, tão grave quanto a política, colocava o Estado
numa posição mais de legislador que de executor, dependente das iniciativas
particulares para tocar seus projetos em frente. Assim, no séc. XIX, a educação
doméstica ainda era forte, as escolas privadas e religiosas, significativas, o
analfabetismo, gritante.
O golpe republicano prometia
muitas mudanças. Prometia. O Estado brasileiro continuava uma extensão da Casa
Grande, uma extensão das fazendas de café. O Oeste paulista, uma locomotiva
carregada pela Federação, carregando a Federação. A educação permanecia
secundária e excludente, voltada para o exterior, apesar das pressões sociais,
que cresciam cada vez mais, havendo, no entanto, uma tímida expansão, no início
do séc. XX. A ideia de educação pública e gratuita foi ganhando força,
associada à modernidade, ao desenvolvimento, derrubando, aos poucos, a mentalidade
de “vocação agrária” do país.
O séc. XX assistiu à expansão
urbana brasileira, ao processo de industrialização, por substituição de
importações, e à expansão das redes pública e privada de ensino básico,
técnico, e superior. No grande concerto das nações, o Brasil não parecia
“destinado” a ser protagonista, mas, sim, um mero consumidor de matéria-prima e
mão-de-obra barata para as multinacionais instaladas em seu território. Nossa
educação propedêutica, como dizia Anísio Teixeira, parecia nos qualificar para
essa “nova vocação”.
Em meados do séc. XX, quando a sociedade brasileira intentava andar com
as próprias pernas, ampliar sua autonomia e reformar, profundamente, o sistema
de ensino, sobreveio o golpe civil-militar. A Ditadura centralizou a gestão das
instituições escolares, focalizou o ensino técnico-profissionalizante e
facilitou a emergência da rede privada, subordinada ao projeto
desenvolvimentista e conservador do Estado. As instituições escolares sofriam
constantes ingerências, a fim de se manterem alinhadas à ideologia dominante.
Com a redemocratização, houve um processo de descentralização da
educação, redefinindo o papel do Estado, desta vez, como regulador mais que
executor, semelhante ao período colonial, diferente da Ditadura. Regulação
através de avaliações e censos. Tudo isso em meio à crise econômica inflacionária,
herdada dos tempos de chumbo.
Recursos, poder e paradigmas (hierarquia de valores, visões de mundo)
permearam as conflituosas relações entre
o público e o privado. Quem detém os recursos? Quem comanda as instituições?
Quais são as prioridades? A partir daí, como implantar essas ou aquelas
políticas? Ser mais, ou menos democrático? A educação joga o jogo do poder e os
discursos educacionais e políticos, muitas vezes, destoam das práticas. A
educação, desde o Manifesto dos Pioneiros, foi vista como meio de controle
social. Controle de quem e por quem?
Desde o período colonial,
existia uma associação direta entre elites econômicas e políticas. Essas mesmas
elites determinavam os modelos de educação hegemônicos, de acordo as suas
mentalidades e conveniências. Mistura de projeto e pragmatismo. Do mesmo modo
que a instituição escolar não funciona num vácuo social, as instituições políticas
também não. Capitães, Senadores, Deputados, Ministros circulavam entre
fazendeiros, traficantes de escravos e donos de engenho, confraternizavam e
confraternizam. O clero da alta hierarquia católica era formado pelos filhos
das elites econômicas, para depois serem professores das mesmas, como se
verifica, no caso dos jesuítas.
Essa promiscuidade entre o
público e privado vigora, com toda força, até hoje, em muitas
confraternizações. A promiscuidade entre o poder político e econômico. As
escolas das elites e as escolas dos pobres. A falta de senso de coletividade,
de coisa pública, que deveria ser construído, na própria escola. Muitos
projetos estão em disputa. Muitos personagens envolvidos, disputando em mesas
de bar, em reuniões a portas fechadas e assembleias televisionadas. Cabe aos
agentes da educação forjarem seus próprios projetos, lutarem por eles,
fundamentados em sua vasta matéria-prima: o conhecimento.
terça-feira, 1 de agosto de 2017
Introdução à História
Anima Animus
Mg Amaral
Série: Livros
Didáticos de História - 1
Olá galerinha contadora de historias e estórias...
Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou?
Existe significado na vida? O que é a vida? O que é aqui? O que é agora? O que
é a realidade? Por que estou aqui? Por que estou lendo este texto? Essas são
algumas das chamadas grandes questões da humanidade (com exceção da última,
talvez), as perguntas fundamentais, o cerne da nossa curiosidade, o móvel de
todas as ciências ou de toda Ciência. Não basta sabermos responder, porque
saber formular perguntas é tão importante quanto formular respostas: saber que
não somos oniscientes, ou seja, não sabemos tudo, possuímos conhecimentos
limitados. Justamente por conta desses limites, devemos estar abertos a
reconhecer equívocos, a reelaborar pensamentos, a mudar paradigmas diante de
novos conhecimentos etc. Ainda que nossos conhecimentos objetivos tenham
limitações, nossa curiosidade, imaginação e criatividade estão sempre aptos a
superar todas as restrições, todos os obstáculos, ampliando os horizontes
indefinidamente. Sem que percamos a humildade, o infinito nos espera, a
imaginação é nossa estrada!
Olá, tudo bem? Como foi seu dia? Consegue
recordar-se de tudo que ocorreu hoje, ontem, anteontem? Poderia nos contar
sobre cada detalhe do seu dia? Perdão, talvez seja falta de educação, afinal,
ainda não nos conhecemos. Pois bem, galerinha do bem e do mal, irei relatar o
meu, para se sentirem mais à vontade:
Acordei pela manhã (poderia ser à tarde
para os mais dorminhocos e ociosos), abri os olhos sonolentos, desejando mais
cinco minutinhos, mais dez, mais quinze, mais vinte.... Após lavar o rosto, a
sonolência dissipou-se, olhei o celular, selecionei um vídeo meditativo no
YouTube e iniciei meus dez minutos de respiração profunda matinal, uma
atividade proposta a mim mesmo, há alguns dias. Após tanto expirar e inspirar,
finalmente tomei o café da manhã, na paz de Cristo e aqui estou, de fone nos
ouvidos, ao som do mantra OM, produzindo esse singelo texto.
Talvez seu primeiro impulso seja comparar
suas primeiras horas da manhã com as minhas e, quem sabe, imaginar como seriam
as primeiras horas das outras sete bilhões de pessoas do planeta. Quantas
possibilidades, quantas diferenças e quantas semelhanças poderíamos encontrar?
Esse pequeno relato constitui a História, uma história, uma estória ou apenas
uma memória? Quais os significados desses termos e que relações eles guardam
entre si? Perguntas profundas para as primeiras horas da manhã, contudo toda
hora é história. A palavra história deriva do antigo termo grego historie que significa “investigar”,
geralmente utilizado para referir-se a ocorrências passadas. Heródoto (484 a.C
– 425 a.C) foi considerado o Pai da História e teria nascido em Halicarnassos,
hoje Brodum, na Turquia. Um personagem cercado de controvérsias, suscitando
calorosos debates entre os estudiosos. Seu livro Histórias aborda questões
relativas à Grécia, ao Império Persa (guerras médicas) e ao Egito. Heródoto
pretendia evitar o esquecimento dos feitos gregos, assim como dos povos
adjacentes, naquela época. As fontes de sua História eram suas observações
diretas, por meio das viagens empreendidas, além dos testemunhos de terceiros
sobre fatos não presenciados por ele. Esquecimento, memória. Imagine-se com uma
profunda amnésia. Quem seria você? Você continuaria sendo você mesmo? Suas
atitudes em relação às pessoas à sua volta, em relação ao mundo mudariam, se
você esquecesse tudo o que ocorreu, tudo o que aprendeu até hoje?
As memórias dos antigos se baseavam nas
tradições orais, no boca a boca, nos rituais religiosos passados de geração a
geração, muitas vezes mais eficazes do que nossa sociedade informatizada
poderia conceber. Mesmo assim, Heródoto possibilitou o registro escrito dessas
memórias, evitando a fluidez que dissolve a tradição oral com o desenrolar dos
séculos. Entretanto, essa História não era mero registro de memórias. Era interpretação,
reflexão e sistematização de um conhecimento gerado a partir das inúmeras
informações coletadas. Memória e esquecimento constituem o nosso ser. As
memórias possuem lacunas, por isso são fragmentárias. Estudos de
neurocientistas vinculam memória às emoções, uma vez que as nossas mais fortes
lembranças envolvem os acontecimentos ligados às mais fortes e significativas
emoções. Qual o sentido disso tudo? Talvez as palavras seleção, interpretação,
perspectiva, limitação, interação e imaginação possam nos ajudar.
Da mesma maneira que Heródoto interpretou
os dados coletados ao longo de suas viagens, nós também interpretamos os
acontecimentos à nossa volta, ao construir memórias, ao decidirmos o modo como
agiremos em cada situação. O modo como você interpreta um evento ou uma pessoa
influencia na sua maneira de agir? Podemos dizer que tudo no mundo seria um
texto, um texto escrito, auditivo, tátil, olfativo ou visual? Podemos dizer que
todos esses textos comportam possíveis leituras, diferentes entre si? E essas
leituras dependeriam de nossos conhecimentos, de nossas perspectivas, de nossa
visão de mundo? Por exemplo: recordam-se da minha historinha sobre esta manhã?
Pois então, imagine o que diria uma pessoa que nunca leu nada sobre mantras e
meditação. Talvez essa pessoa seja você, inclusive. A partir da visão dela, do
seu ponto de vista, a minha prática de meditar, ao acordar, pode parecer
incompreensível, intrigante, dispensável ou, até mesmo, uma perda de tempo.
Pode ser que sua curiosidade a leve a pesquisar sobre o assunto e que essa
pesquisa mude sua opinião sobre o fato ou reforce a opinião pré-existente,
agora mais fundamentada. Consegue conectar-se com tudo já dito anteriormente?
Outra probabilidade seria eu ter inventado
toda aquela estória matinal, desta vez com “E”: ficção, criação, imaginação,
literatura. Ainda que seja uma estória plausível de ter ocorrido, referenciada
em aspectos da nossa realidade, qual elemento a caracterizaria enquanto uma
indiscutível ficção? Sua principal fonte, a imaginação! A mesma imaginação
capaz de compor belas músicas, poesias, jogos de computador e consoles, filmes,
romances etc. Aqui chegamos a um dos pilares da História, enquanto disciplina
acadêmica: suas fontes. As fontes históricas são os inúmeros tipos de vestígios
legados pela humanidade ao longo do tempo, incluindo as obras ficcionais. Toda
ficção foi produzida por alguém, em algum lugar, em alguma época, com algum
ponto de vista, forma de interpretar o mundo. Investigar essas variáveis é o
trabalho do historiador. A mulher, o homem e suas obras no decorrer dos tempos.
Mudanças e permanências:
A compreensão das relações existentes
entre passado e o presente é uma questão intrigante. É também uma das questões
centrais da História, disciplina que se dedica ao estudo das vivências humanas
em épocas e lugares distintos. Ela investiga o que mulheres e homens de
diferentes sociedades e épocas fizeram, pensaram e sentiram no decorrer de suas
vidas. Abrange, por exemplo, aspectos da vida econômica, política, da cultura
material e das mentalidades. (Cotrim, Gilberto: História Global: Brasil e
geral: volume único – 10. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2012 - pg 11, cap. 1)
O como, o método é outra chave para
compreensão da disciplina História. A forma de tratar as fontes, a maneira de
tecer as críticas, de questionar as fontes, a fim de extrair a verdade ou as
verdades possíveis. Destacadamente, ao longo do séc. XIX, a História foi se
consolidando como uma disciplina científica moderna, apoiada numa metodologia
específica, na esteira do pensamento positivista. Positivismo rima com
conhecimento objetivo, positivo, ou seja, a chance de conhecer a verdade dos
fatos, de reconstituir a História, tal qual ela aconteceu. Caso você releia
esse texto, perceberá a contradição desse pensamento com os argumentos
construídos até aqui. Seria possível escrever a história exatamente como
ocorreu? E o que significa esse “exatamente”? Teria o mesmo sentido para todas
as pessoas debruçadas sobre os mesmos assuntos? Lembrem-se das questões de
perspectivas, da não onisciência humana, das lacunas nas memórias, das lacunas
nos próprios documentos, da interferência de nossas emoções, da subjetividade.
Você seria capaz de reconstituir sua história exatamente como ela ocorreu? Como
seria essa mesma história se fosse contada por sua mãe ou seu pai, por exemplo,
ou por qualquer outro que tenha convivido bastante tempo com você? Ou como
seria se um desconhecido entrevistasse as pessoas que o conheceram, para contar
sua história ou mesmo recolhesse todos os vestígios de atividades deixados por
você, ao longo do tempo? Faça um teste simples para perceber as possibilidades
de diversas versões de uma mesma história:
Ao
mesmo tempo que existe uma pluralidade de pontos de vista sobre o passado,
múltiplas são as “vozes” que nos falam dele. Essas “vozes”, ou melhor, essas
fontes de informações, estão nos discursos orais e escritos, monumentos, obras
literárias, pinturas, obras de arte, objetos cotidianos e mesmo nos corpos
preservados ou esqueletos de pessoas de agrupamentos antigos, bem como no DNA
de seus descendentes. Portanto, para apreender as múltiplas “vozes” do passado,
cabe ao historiador definir enfoques, sem deixar de considerar a existência de
outros.
As fontes não falam por si e não
trazem a verdade pronta: é preciso que o pesquisador interrogue o contexto em
que foram produzidas, que grupo ou valores representam, de que maneira abordam
e retratam os diferentes grupos sociais. Essas perguntas são geradas pelos
interesses do historiador e pelas questões de sua época. Por isso, diferentes
perguntas revelarão diferentes respostas de um mesmo documento, ou levarão a
outros documentos. (Vicentino, Cláudio; Dorigo, Gianpaolo – História Geral e do
Brasil 1. Ed. – São Paulo: Scipione, 2010 – pg 11)
Se a História fosse uma religião, seu
deus seria Cronos, o deus grego do Tempo. O tempo seria como uma gigantesca
corrente marítima e nós estaríamos imersos nessa corrente, navegando em
diferentes velocidades. Lembra-se das emoções? Aí estão elas, mais uma vez. Os
tempos alegres passam tão rápido. Os tempos tristes e entediantes, tão devagar.
Em nossa sociedade de tantas ocupações ao mesmo tempo, não parece estar voando?
Percepções de tempo, perspectivas. Como passaria o tempo de sociedades
indígenas, vivendo em florestas? Como passaria o tempo, nos campos dos
interiores desse Brasil? Como cada um deles conta esse mesmo tempo? A partir do
Sol, da Lua, dos fenômenos naturais, das épocas de plantio e colheita ou a
partir de nossos relógios industrializados? Para que serviriam nossos relógios,
numa sociedade florestal? Durante milhares de anos, as diversas populações
humanas contaram o tempo de variadas maneiras, muitas vezes recorrendo aos
fenômenos naturais observáveis, criando calendários cujos significados diferiam
muito entre cada povo, pois cada um estava imerso em sua cultura e
religiosidade. A História acadêmica estuda os homens no tempo, as
singularidades de cada tempo. Estudar sociedades pretéritas seria como viajar
para países distantes, mesmo que se trate de nosso próprio país. Tal qual o
tempo, a percepção do mesmo varia de acordo às nossas emoções, os tempos
históricos variam de acordo aos significados atribuídos aos fatos e temas
organizados pelos historiadores, sendo uma construção social, passível de
críticas e reorganizações.
“Conhecimento é poder” - dito popular.
Existe uma estreita relação entre os diversos ramos do conhecimento, como dizia
o Pai da Pedagogia moderna, Comenius (1592-1670), citado pelo filósofo e
pedagogo espanhol Antoni Zabala, em seu texto “A Organização dos Conteúdos da
Aprendizagem”. Em outras palavras, a
Ciência seria uma só, compartimentada em várias disciplinas, devido às
limitações da vida humana. Impossível aprender sobre tudo, ao mesmo tempo, em
apenas uma encarnação. Por isso, o modelo de produção industrial, divisão em
partes especializadas para otimizar o tempo, foi aplicado às Ciências. No
entanto, não devemos perder de vista esta interconexão. O poder se expressa das
mais diversas formas, desde a capacidade de se levantar da cama, abrir os olhos,
até ocupar um cargo de presidência institucional. Poder e viver estariam
indissociáveis, sendo o viver mais abundante, quanto maior o poder. Poder,
influência, realização. Somos parte da humanidade ou estamos à parte dela?
Então, sobre quem trata a História? Quem sou eu? Quem é o outro? Quem sou eu em
relação ao outro? O que é a sociedade? As sociedades? Como vejo o outro? Como o
outro me vê? Quantas verdades são possíveis? Autoconhecimento, conhecimento
social, conhecimento cultural, político, econômico, religioso. O que aquelas
sociedades lá de onde “Judas perdeu as botas”, perdidas nas brumas do tempo, têm
a ver com você? E o passado recente também é História? Historie, investigue! Tudo isso descobriremos juntos ou ao menos
viveremos tentando, nessa aventura pelos vestígios da História. Convido vocês a
construírem seus caminhos, sem a vergonha de pedir ajuda a quem puder ajudar,
sempre que necessário. Super-heróis possuem superpoderes. Humanos possuem
poderes. E quão extraordinários serão esses poderes, quanto mais ampliarmos
nossos conhecimentos, nossos horizontes. Quanto mais estivermos unidos em prol
da sabedoria, mais os poderes serão ampliados. Conte uma história, conte sua
história, contemos nossas histórias...
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