As independências políticas
latino-americanas não se traduziram em independência econômica. As dependências
econômicas, aliadas às contradições internas de cada país, deram margem às
diversas ingerências europeias e estadunidenses. Isso ocorreu em meio à corrida
imperialista das potências do séc. XIX, que acreditavam na necessidade de
expandir suas respectivas áreas de influência, a fim de garantirem posições
relevantes no cenário internacional.
Robert Smith analisa as variadas fases
referentes à política exterior dos EUA, traçando, implicitamente, uma linha
ascendente do intervencionismo norte-americano em termos quantitativos e de
intensidade.
A ilha de Cuba parece ser o caso mais
notório. A ideia de um espaço vital para os interesses norte-americanos foi
sedimentada, gradualmente, no seio e nas adjacências do governo. Os temores em
relação aos imperialistas europeus, que colocariam em risco a
segurança estadunidense, com ênfase nos alemães, os quais ampliavam sua
ingerência político-econômico-militar na América Latina, criavam pressões
internas e externas para os EUA assumirem um papel intervencionista. Assim, a
força crescente dessas ideias se materializou numa intervenção ostensiva e
duradoura na ilha cubana. Sob o discurso de proteger a República caribenha
recém-formada, foi instituído um governo militar controlado por Washington. Uma
parte significativa dos engenhos de açúcar também estava nas mãos norte-americanas.
Desse modo, foi criada uma espécie de Estado tutelado, fato institucionalizado
pela Emenda Platt, e que teria desdobramentos nas ações subsequentes do governo
americano em toda Latino-América.
O documentário de Oliver Stone aborda a
virada política latino-americana mais à esquerda, a partir da segunda metade do
séc. XX, fenômeno que teria se iniciado com a Revolução Cubana e teria se
expandido por todo o Continente. No bojo dessas tendências esquerdistas, estava
a busca de afirmação identitária, a luta contra o imperialismo, a partir de uma
integração latino-americana, que fizesse frente aos todo poderosos EUA. A ascensão
desses governos à esquerda demonstraria uma forte reação às políticas externas,
adotadas pelas potências mundiais, por décadas a fio. Uma crescente insatisfação
das camadas populares de cada país associada a sua também crescente capacidade
de organização política e mobilização ajudam a compreender esse quadro.
Hoje, toda essa onda latino-americana reverbera
no centro do Império: Estados Unidos. E mesmo todo o poder midiático não foi
capaz de impedir essa intervenção de ideias, traduzidas em ações concretas dos
países Latino-Americanos, no seio daquela nação que se achou com direito de
tomar, somente para si, o nome América.