terça-feira, 20 de outubro de 2015

Intervencionismo norte-americano na América Latina



Ola galerinha independente, ingerente, autônoma e enxerida...

     As independências políticas latino-americanas não se traduziram em independência econômica. As dependências econômicas, aliadas às contradições internas de cada país, deram margem às diversas ingerências europeias e estadunidenses. Isso ocorreu em meio à corrida imperialista das potências do séc. XIX, que acreditavam na necessidade de expandir suas respectivas áreas de influência, a fim de garantirem posições relevantes no cenário internacional.
   Robert Smith analisa as variadas fases referentes à política exterior dos EUA, traçando, implicitamente, uma linha ascendente do intervencionismo norte-americano em termos quantitativos e de intensidade.
      A ilha de Cuba parece ser o caso mais notório. A ideia de um espaço vital para os interesses norte-americanos foi sedimentada, gradualmente, no seio e nas adjacências do governo. Os temores em relação aos imperialistas europeus, que colocariam em risco a segurança estadunidense, com ênfase nos alemães, os quais ampliavam sua ingerência político-econômico-militar na América Latina, criavam pressões internas e externas para os EUA assumirem um papel intervencionista. Assim, a força crescente dessas ideias se materializou numa intervenção ostensiva e duradoura na ilha cubana. Sob o discurso de proteger a República caribenha recém-formada, foi instituído um governo militar controlado por Washington. Uma parte significativa dos engenhos de açúcar também estava nas mãos norte-americanas. Desse modo, foi criada uma espécie de Estado tutelado, fato institucionalizado pela Emenda Platt, e que teria desdobramentos nas ações subsequentes do governo americano em toda Latino-América.
     O documentário de Oliver Stone aborda a virada política latino-americana mais à esquerda, a partir da segunda metade do séc. XX, fenômeno que teria se iniciado com a Revolução Cubana e teria se expandido por todo o Continente. No bojo dessas tendências esquerdistas, estava a busca de afirmação identitária, a luta contra o imperialismo, a partir de uma integração latino-americana, que fizesse frente aos todo poderosos EUA. A ascensão desses governos à esquerda demonstraria uma forte reação às políticas externas, adotadas pelas potências mundiais, por décadas a fio. Uma crescente insatisfação das camadas populares de cada país associada a sua também crescente capacidade de organização política e mobilização ajudam a compreender esse quadro.

      Hoje, toda essa onda latino-americana reverbera no centro do Império: Estados Unidos. E mesmo todo o poder midiático não foi capaz de impedir essa intervenção de ideias, traduzidas em ações concretas dos países Latino-Americanos, no seio daquela nação que se achou com direito de tomar, somente para si, o nome América.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Preconceito, preconceito meu, existe alguém mais preconceituoso do que... eu¿




     Falar de preconceito virou moda. Falar, na verdade, contra o preconceito, bradar o mais alto possível, a fim de eliminá-lo de uma vez da face sofrida da Terra! Todos se acautelam de se dizerem preconceituosos: preconceituoso eu¿ Jamais! Existe o policiamento vocabular, o império do politicamente correto, a polidez, o verniz da civilização! Aquele brilho cínico estampado em sorrisos educados; aquela atmosfera morna que percorre os salões das mais requintadas festas, das conferências, dos congressos. Preconceituoso você¿ A não ser que encarne o Deus onisciente...Sim, sim, sim!
     Segundo o dicionário Houaiss, preconceito é: “1 qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico 1.1 ideia, opinião ou  sentimento desfavorável formado sem conhecimento abalizado, ponderação ou razão 2 sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância (...)”.
      Ora, a ignorância é a essência própria do preconceito, é sua razão de ser tal como é. Fala-se muito em tipos específicos de preconceito: contra negros, mulheres, pobres, LGBTS e religiosos. Porém, esquecem a diversidade de preconceitos que abarcam ou podem abarcar tudo e todos, cada grão daquilo chamado realidade. Desse modo, ouso complementar o Houaiss, sinalizando que nem todo preconceito encarna uma negativação, contudo seu cerne encontra-se na invariável distorção apresentada por ele.
      Cada vez que nos deparamos com um novo objeto, um novo evento, um novo dado da realidade, nos apressamos em decodificá-lo da melhor maneira possível, utilizando nossos referenciais do passado e todo arcabouço que seja viável empregar num curto espaço de tempo. A eficiência desse processo pode ser vital em certas situações e irrelevante, a curto prazo, em muitas outras. E a partir daí podemos rastrear o verdadeiro problema. O preconceito sempre foi e será inerente à vida humana, assim como as limitações do conhecimento são cada vez mais colossais, à medida que esse conhecimento avança. Por isso, a problemática não está nas apressadas ideias pré-concebidas que fazemos do real e, sim, no enraizamento dessas conclusões necessariamente distorcidas e superficiais.
      Muitas vezes confunde-se o preconceito com o ato discriminatório, este, sim, intolerável e passível de erradicação. A discriminação, enquanto ação, não poderá materializar-se, caso seja precedida de um mínimo de reflexão. A tal ponderação e razão apontadas pelo Houaiss. Lembrar aquela estória de dois ouvidos e uma boca; contar até dez, até mil; respirar fundo e exercer essa fascinante habilidade denominada: pensar.

        Se formos penetrar mais fundo na dicotomia conhecimento\ignorância, será forçoso reconhecer a inexorabilidade da distorção, enquanto uma condição humana de enxergar a realidade. No entanto, ainda que as trevas estejam presentes a cada ponto de luz acendido, não podemos olvidar os efeitos dessa iluminação na nossa capacidade de ver melhor o mundo, de transitar nele e estruturá-lo mais satisfatoriamente. Nesse sentido, o foco do nosso combate deveria ser o comodismo, a passividade, a inflexibilidade diante do mundo, diante do novo. Reacendamos o dinamismo próprio do ser humano. Dínamo que é força, que é alma, que é vida! A curiosidade, a sede insaciável pelo conhecimento. Assim, estaremos sempre nos deslocando para longe dessa superfície preconceituosa, mas talvez nunca cheguemos ao fundo da “toca do coelho”.