Olá galerinha do venha a mim o vosso reino e seja feita essa nossa vontade assim, apenas na vossa terra,
Tomando
como
exemplo, os processos de independência nas Américas, nomeadamente, Brasil e
Estados Unidos, algo, no mínimo, curioso salta aos olhos. Existe por parte das
respectivas metrópoles, Portugal e Inglaterra, um recrudescimento das leis
referentes às suas colônias, no momento em que ideias autonomistas, pululam
nesses espaços americanos, sejam as leis do Selo e do Chá da segunda metade do
século XVIII, além do envio de tropas inglesas para as Treze Colônias, seja a
tentativa por parte das Cortes portuguesas de anular o novo estatuto de Reino
do Brasil, no início do século XIX.
Essas atitudes metropolitanas parecem
óbvias e, de certa forma, o são, uma vez que havia a vontade em manter a
lucrativa colonização e não existia a possibilidade de admitir uma concorrência
com as próprias colônias, muito menos uma inversão de papéis. No entanto, a
Inglaterra, pioneira da industrialização, propagadora dos valores liberais, na
esteira do iluminismo, assume uma posição de bastião do arcaísmo, quando o assunto
diz respeito a sua colônia, com medidas protecionistas, monopolistas e
autoritárias.
Em Portugal, ocorreu situação semelhante.
Após as invasões napoleônicas e sua consequente transferência (fuga) da família
real para o Rio de Janeiro, os súditos da metrópole sentiram-se ultrajados por
tornarem-se periferia do império e ansiaram pela reversão desse quadro.
Embebida pelos valores liberais, a Revolução do Porto (1820) convocou as Cortes
de Portugal que logo se transformaram Assembleia Constituinte, seguindo o
exemplo recente da Espanha. E foi, exatamente, nessa Assembleia de cunho
liberal, que os deputados lusitanos insistiram na reestruturação do exclusivo
colonial entre outras medidas arcaizantes, sendo intransigentes com as
propostas autonomistas dos delegados brasileiros.
Apenas a título de reforço, a primeira
Constituição francesa de 1791, em plena Revolução, proclamadora da igualdade
civil, supressora dos privilégios nobiliárquicos e das ordens sociais, aquela
que nacionalizou os bens da Igreja e aboliu a servidão, foi a mesma capaz de
manter a escravidão nas suas colônias, sendo a França pré-revolucionária e
absolutista um apoio fundamental para a Independência dos Estados Unidos. O
governo da Convenção jacobina ousou remar na direção contrária, abolindo a
escravidão colonial, porém sua duração foi curta. Contudo, essa mesmíssima
Convenção instituiu o Terror, guilhotinou líderes populares, afastando o apoio
dos sans-cullotes. Quantos jogos de interesses, quantas lutas internas e
externas!...
É
interessante notar o grau acentuado de sectarismo nas diferentes sociedades,
inclusive no interior delas. Nesses casos, sumariamente exemplificados,
observam-se dois processos contrários, mas, aparentemente, vistos como
complementares pelos seus protagonistas. As lutas pelas liberdades em vários
âmbitos, incluindo o comercial, acompanham as lutas pela dominação, pela
castração, pela possibilidade de exploração colonial, pelo imperialismo. Tudo
isso ocorre sem o menor senso de empatia ou de “contraditoriedade” daqueles que
encampam tais projetos. Seria como se existisse um pressuposto: a prosperidade
alheia ameaça a minha prosperidade e, por isso, devo impedi-lo a todo custo,
hegemonizando meus interesses acima dos deles.
Esse pressuposto da escassez, da mesquinhez,
orientou, notadamente, os Estados Unidos, após sua ascensão global. E assim
eles fizeram aos outros países, justamente, aquilo que não queriam que a
Inglaterra tivesse feito a eles: intervenção no próprio Brasil, no Panamá,
Nicarágua, Chile, México, Vietnã, Iraque etc. Até o Brasil teve, também, seus
ímpetos imperialistas. Não surpreende que as tão publicizadas ajudas
internacionais, muitas vezes, não passam de maneiras maquiadas, a fim de
criarem dependências, não importando mais o controle territorial direto. Será
tão produtivo angariar tantos esforços contra nós mesmos¿ Vivemos em quantos
planetas¿ Fazemos parte de quantas espécies¿
Espero que tenham curtido
e até o próximo post!
Abraços!